Sexto dia: O DOM DE FORTALEZA
TODOS -
Vinde, Espírito Santo, Vós que sois a “força da destra de Deus”, com o canta a
Liturgia, infundi a vossa graça nos nossos corações e cumulai de forças a nossa
fraqueza.
LEITOR - Como nos dias anteriores, hoje vamos
começar lembrando em que consiste o novo dom sobre o qual vamos meditar: o dom
de Fortaleza. Há uma definição bastante breve: é o dom que nos torna capazes de
assumir com coragem as lutas necessárias para levar uma vida cristã, uma vida
santa. Essas lutas espirituais são de dois tipos. O primeiro consiste em ter
coragem para correr atrás dos ideais grandes e das virtudes difíceis que Deus
nos pede, sem fugir deles por medo, nem desistir a meio caminho porque o
esforço custa e cansa. O segundo é a paciência necessária para aceitar com
firmeza as contrariedades, incompreensões e até mesmo perseguições que possam
surgir, quando nos decidirmos a ser cristãos de verdade. Perfeitamente. E,
sabem qual é o exemplo máximo de fortaleza cristã?
TODOS - O
martírio! Ter a coragem de dar a vida por amor a Deus antes que renegar da fé e
antes que ofender a Deus. É o exemplo que nos têm dado inúmeros santos: Antes
morrer que pecar!
LEITOR - Acho que vale a pena lembrar, ainda que
resumidamente, dois exemplos maravilhosos de mártires brasileiros, e peço a
Deus que isso os anime a ler e conhecer melhor a santidade heroica de outros
católicos brasileiros. O primeiro exemplo é o dos mártires do Rio Grande do
Norte. Durante o domínio holandês, houve uma perseguição de protestantes contra
os católicos. Em 16 de julho de 1645, soldados holandeses, com o auxílio de
guerreiros indígenas, invadiram uma igreja em Cunhaú, durante a Santa Missa.
Logo depois da elevação da hóstia, martirizaram barbaramente o celebrante, o
padre nonagenário André de Soveral, e mais 69 fiéis (homens, mulheres,
crianças), que morreram invocado Jesus e Nossa Senhora. Dois meses e meio
depois, em 3 de outubro, foram martirizados, à beira do rio Uruaçu, o padre
Ambrósio Francisco Ferro e várias dezenas de fiéis católicos, enquanto se ouvia
a voz do leigo Mateus Moreira rezando: “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”.
Todos estes mártires foram beatificados por João Paulo II. Mais recentemente,
foi beatificada também uma maravilhosa menina catarinense de doze anos, a
Bem-aventurada Albertina Berkenbrock, que, em 15 de junho de 1931, imitando o
exemplo de Santa Maria Goretti, preferiu morrer antes que ofender a Deus
cometendo um pecado grave contra a castidade, apesar das pressões e ameaças do
homem que acabou matando-a. Que exemplos para a fé e a moral tão fraquinhas de
muitos católicos atuais!
TODOS -
Que Deus nos perdoe as nossas fraquezas. Acho que, realmente, nós não seríamos
capazes de fazer o que fizeram esses nossos irmãos brasileiros, heróis da fé e
do amor a Deus. Custa dizer: antes morrer que pecar!
LEITOR - Eu estou certo de que, sem o auxílio da
graça e do dom de fortaleza, nenhum de nós conseguiria ter a coragem de abraçar
o martírio. Mas não fiquemos só pensando nessas situações extraordinárias, que
muito provavelmente nunca se apresentarão na nossa vida. Pelo contrário, todos
nós precisamos diariamente de coragem e fortaleza para enfrentar e suportar,
tal como Deus nos pede, muitas dificuldades. Faz parte da fortaleza cristã, por
exemplo, a paciência que a mãe precisa de ter com os filhos, ou a professora
com os alunos rebeldes … E também a firmeza que uma moça católica bem formada
precisa ter para não ceder às tentações contra a castidade no namoro, ou nos
ambientes de balada e bebida em que há muita licenciosidade … E a força moral
de que precisa um advogado, um policial, um fiscal da receita, um gerente de
vendas e tantos outros profissionais, para não se deixarem corromper com
propinas ou acordos desonestos… E ainda a coragem de mostrar as convicções
cristãs, sem alarde nem agressividade, mas também sem covardia, quando Cristo,
a Igreja e as suas instituições, ou algumas verdades da fé ou princípios de
moral são atacados ou ridicularizados…Diante destes exemplos, precisamos fazer
um pausa e tomar mais consciência de algumas falhas e ofensas a Deus que
cometemos frequentemente, por fraqueza. (pausa de silêncio)
LEITOR -
Nestes momentos de silêncio, pensemos na facilidade com que dizemos, como
desculpa, que “a carne é fraca”. E com que facilidade nos esquecemos de que,
para um filho de Deus, “a graça é forte”. São Paulo diz que o Espírito Santo
vem em auxílio da nossa fraqueza, e, por isso, apesar de ele mesmo se
sentir muito fraco, exclamava, cheio de alegria: Posso tudo naquele que me
dá forças. É isso o que nós vemos acontecer no dia de Pentecostes. Os
Apóstolos andavam encolhidos, apavorados, ainda cheios de medo dos que mataram
Jesus. Mal recebem, porém, o Espírito Santo, na hora se põem de pé, enfrentam
uma multidão de milhares de peregrinos que tinham ido à festa em Jerusalém, e
começam a pregar sobre Jesus Cristo, com enorme desassombro: Que toda a casa
de Israel saiba, com a maior certeza - clamava São Pedro em alta voz - que
este Jesus que vós crucificastes, Deus o constituiu Senhor e Cristo. Mas,
vamos ver, antes de saírem de peito aberto diante de todos e arriscar a vida, o
que eles fizeram? Rezaram, todos juntos, com Maria, a Mãe de Jesus, pedindo a força
do alto. Este é sempre o primeiro passo, que, como diziam os santos, deve
preceder, acompanhar e seguir todas as nossas ações. Na Missa de Pentecostes, a
Igreja se dirige ao Espírito Santo com estas palavras: Sem o vosso poder
divino, nada há de bom no homem, nada há que seja puro. Portanto, rezar,
rezar e rezar… Mas há um outro passo imprescindível: para obter a fortaleza de
Deus, é preciso que nós nos esforcemos sinceramente, com generosidade, em
colaborar, tomando a nossa cruz, como Cristo nos pede: Se alguém quiser vir
após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Uma cruz que é o
nosso sacrifício diário, voluntário, corajoso e simples ao mesmo tempo. Por
exemplo, oferecer a Deus a mortificação de calar-nos, quando estamos irritados;
de não nos queixarmos quando temos motivos de queixa; ou de comer um pouco
menos do que mais gostamos, e um pouco mais do que não gostamos; ou o esforço
de levantar na hora certa, sem conceder um minuto à preguiça; ou a mortificação
de acabar até o fim, com perfeição, cada trabalho, ainda que estejamos mortos
de cansaço; ou a mortificação de não deixar de fazer oração, leitura espiritual
e outras práticas, mesmo num dia muito apertado de tarefas…
TODOS -
Senhor, perdoai-nos. Vós morrestes por nós na Cruz, e nós temos medo de pegar
na nossa cruz de cada dia, por amor a Vós e aos nossos irmãos. Ajudai-nos a
preparar-nos para receber do Espírito Santo o dom de fortaleza, fazendo
mortificações pequenas, frequentes e generosas.
LEITOR - E, com essa oração, terminamos o nosso
sexto encontro. Eu daria a seguinte sugestão de propósito concreto para este
dia: pedir intensamente ao Espírito Santo o dom de fortaleza. E, ao mesmo
tempo, fazer uma lista das nossas molezas e covardias, e, paralelamente, outra
lista de mortificações práticas - de pequenos sacrifícios - que nos possam ajudar
a vencer, com o auxílio da graça, essas fraquezas.
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