Sétimo dia O DOM DE TEMOR
TODOS -
Divino Espírito Santo, lavai o que está manchado; ao que tem sede, dai-lhe
água; curai o que está enfermo; abrandai o que é duro; aquecei o que tem frio,
guiai o que anda errado.
LEITOR - Hoje vamos meditar sobre o dom de Temor de
Deus, que talvez seja um dos menos compreendidos. Porque essa palavra “temor”
não é nada agradável. Dentro da nossa linguagem comum, a palavra “temor” sugere
medo, receio…, até desconfiança. Poderia dar a ideia de que esse dom consiste
em ter medo da severidade de Deus, dos seus castigos nesta terra e no inferno…
Como se tivéssemos a imagem de Deus como um fiscal ou um juiz terrível. Como é
lógico, isto está errado. A primeira coisa que Jesus nos ensinou é que Deus é
Pai e nos ama. Por isso, João Paulo II dizia que esse dom “não significa medo
irracional, mas sentido da responsabilidade e de fidelidade à lei de Deus”. E
que, sobretudo, consiste no temor de ofender esse Pai boníssimo: “é o próprio
amor de Deus - ensinava João Paulo II - que faz com que a alma se preocupe de
não causar desgosto a Deus, amado como Pai”. Acabamos de ouvir que João Paulo
II fala de “responsabilidade” diante de Deus. Vocês sabem que a
responsabilidade é o contrário da leviandade, da falta de seriedade e de
respeito. Pois bem, não acham que está havendo leviandade demais, falta de
seriedade demais, falta de respeito demais para com as coisas de Deus? Uma
coisa é ter uma confiança grande, de filhos carinhosos, para com Deus, e outra
muito diferente é não ligar para o desrespeito, tratar Deus de qualquer jeito,
sermos grosseiros, brincar com Deus… São Paulo bem que alertava, e são palavras
que dão um certo arrepio: Não vos enganeis: de Deus ninguém zomba. O que o
homem semeia, isso mesmo colherá…, a corrupção ou a vida eterna. TODOS. —
Divino Espírito Santo, ajudai a vossa Igreja. Que pena dá ver que hoje,
inclusive dentro da igreja e em atos de culto, muitos católicos — com pretextos
inconsistentes — fal-tam aos detalhes mais elementares de educação, de respeito
e de delicadeza para com Deus. Conversam distraídos. Vão vestidos, diante do
sacrário ou na Santa Missa — que é o ato mais sagrado da terra —, como se
estivessem num churrasco, quando não andam de forma indecorosa… Parece que não
são capazes de fazer uma genuflexão lenta, pausada, devota, toda vez que passam
pela frente do sacrário. E, o que é pior - e deveria horrorizar-nos - comungam
tranquilamente em estado de pecado mortal, sem se ter confessado antes, esquecendo
que São Paulo diz que todo aquele que comungar indignamente, será réu do
corpo e do sangue do Senhor… E que aquele que comunga sem distinguir o
Corpo do Senhor (sem estado de graça, sem fé, sem adoração), come e bebe
a sua própria condenação 37. Por isso, ao pedir ao Espírito Santo o dom de
temor, será bom que lhe peçamos o espírito de adoração, que é um aspecto
importante desse dom e um dos sentimentos mais belos e santificadores da vida
cristã. Digamos todos, com palavras inspiradas numa devota oração:
TODOS -
Divino Espírito Santo, abri os nossos olhos à infinita grandeza e bondade de
Deus. Ajudai-nos a ter um vivo sentimento da majestade de Deus, que nos abisme
numa adoração profunda; uma adoração tão clarividente que torne o nosso coração
capaz de extasiar-se perante a beleza e grandeza infinita do Amor de Deus, e
que no torne também capazes de experimentar um forte temor de pecar, de
ofendê-lo e de nos afastarmos d’Ele.
LEITOR - Acho que este é um bom momento para
pararmos uns instantes e fazer exame sobre o nosso espírito de amor, respeito e
adoração. (pausa de silêncio)
LEITOR - Há um instante foi mencionado mais um
aspecto importante do dom de temor, que é o temor de ofender a Deus, justamente
porque queremos amá-lo muito. Algo parecido com o que acontece à pessoa que ama
outra com loucura, e, por isso, sofre e se atormenta só de pensar que lhe possa
ter causado um desgosto. Este é o temor filial, que é o perfeito temor
de Deus. Dele falava Santa Teresa de Ávila nestes termos: “Trabalhai sempre por
adquirir uma determinação tão grande de não ofender ao Senhor, que estejais
dispostas a perder mil vidas de preferência a fazer um pecado mortal; e dos
veniais guardai-vos com sumo desvelo”. Não é perfeito evitar pecados e ofensas
só por medo do castigo de Deus. Aliás, é isto o que nos diz São João: Aquele
que teme não é perfeito no amor. E, de fato, os cristãos que só reagem por
medo do castigo divino, caem inevitavelmente em duas doenças graves da alma,
que costumam levar à ruína espiritual. A primeira, é que pouco se importam com
os pecados veniais, porque não são de molde a merecer as penas do inferno.
Acontece, porém, que o acúmulo de pecados veniais, sem o devido arrependimento,
vai levando à cegueira da alma, à perda de sensibilidade moral, e precipita
inevitavelmente no pecado mortal. Se alguém chega a esse estado infeliz - o que
Deus não permita! - então, sim, pode ter medo da justiça divina, porque já
lembrávamos que com Deus não se brinca. E ser indiferente aos pecados
veniais é brincar mesmo com Deus. É como se a pessoa dissesse: Senhor, a Ti que
morreste na Cruz por mim, pouco me importa ofender-te, ferir-te a cabeça e o
coração com espinhos, desde que isso não me prejudique a mim, isto é, não me
ponha em perigo de condenação eterna. Que egoísmo! Deus é Pai, mas não é por
ser um Pai tão bom que vamos desprezá-lo e maltratá-lo! A segunda doença é uma
doença ligada à primeira. É também uma falta de amor. Consiste na incapacidade
de viver o arrependimento verdadeiro - de ter dor de amor pelos pecados, graves
e leves - e, em consequência, na incapacidade de entender o valor da penitência
e da reparação. Que medo têm muitos da penitência, que aversão a fazer
sacrifícios que custem, como um pouco de jejum, ou uma vigília mais prolongada de
oração, ou um dia sem televi-são, com a intenção de reparar pelos pecados,
unindo-nos à Cruz redentora de Nosso Senhor, que padeceu para expiar esses
nossos pecados. E, no entanto, a penitência é necessária para purificar a alma,
aprimorar o amor e fazer amadurecer o nosso espírito de filhos de Deus.
TODOS -
Hoje, em muitas vidas, o amor foi substituído pelo prazer. Por isso os “amores”
humanos, com frequência, duram muito pouco. E por isso, na opinião pública,
falta a capacidade, que só o amor pode dar, para compreender a prática da
penitência cristã, voluntária. E então, infelizmente, a penitência é vista como
coisa ultrapassada, medieval, absurda…
LEITOR - Uma das maiores desgraças que um homem
pode ter é não ser capaz de se arrepender. Aquele que passar pela vida sem ter
aprendido a chorar com as lágrimas da pecadora que pediu perdão aos pés de
Jesus, será fatalmente um ser humano mutilado na sua grandeza e diminuído na
sua dignidade. Aquele que não “sabe” arrepender-se acaba por endurecer-se nos
seus defeitos, e - para dizê-lo com crueza - morre ignorando o que significa a
palavra amor, aquela palavra que resume o primeiro e principal de todos
os mandamentos: “Amarás a Deus sobre todas as coisas”. Enquanto não brotar uma
lágrima de verdadeiro arrependimento, o coração humano, mesmo o que parece bom
e limpo, não possuirá o segredo do acesso ao coração de Cristo. As lágrimas
penitentes são a chave que abre essa porta. Sem elas, para nós, pecadores, não
há outra que abra. Que acham se rezamos uma oração, composta em forma de poema
por um frade medieval, Jacopone da Todi, pedindo a Nossa Senhora que nos
alcance, da graça do Espírito Santo, essa dor de amor, que encerra em si o
perfeito temor filial de ofender a Deus. Vale a pena rezá-la pedindo ao
Espírito Santo que a grave bem na nossa alma:
TODOS -
"Eia, Mãe, fonte de amor, / fazei-me sentir a dor / para que eu chore
convosco. / Que arda o meu coração / no amor a Cristo Senhor, / para que possa
agradar-Lhe./ Fazei isto, santa Mãe: / gravai fundo em minha alma / as chagas
do vosso Filho./ Junto à Cruz eu quero estar, / minhas lágrimas juntar / às que
lá Vós derramastes".
LEITOR - Com isso, acho que podemos dar por
encerrado este sétimo dia da novena. Eu sugeriria hoje, como propósito
concreto, que todas as noites terminássemos o nosso exame de consciência com um
ato de dor de amor - por exemplo, Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor, tende
piedade de mim, pecador; ou, como dizia São Pedro, Senhor, tu sabes
tudo, tu sabes que eu te amo - ato de contrição que esteja unido a um
propósito de emenda e a uma decisão também concreta de fazer algum ato positivo
que compense - como penitência e reparação - os atos e palavras negativos de
que nos arrependemos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários ofensivos serão excluídos