Caros leitores, talvez quem tenha participado da Santa Missa em nossa paróquia no último fim de semana, tenha percebido uma novidade: uma cruz e quatro castiçais sobre o altar. Este é o chamado arranjo beneditino. Recebe este nome em homenagem ao Papa Bento XVI, que resgatou tão bela tradição da Igreja. Para uma melhor explicação, compreendamos da seguinte forma: no Rito da Missa Extraordinária, que era a única até o Concílio Vaticano II, tínhamos o sacerdote que rezava a Missa na forma Versus Deum, ou seja, voltado para Deus.
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A impressão
que muitos tinham e que até hoje alguns tem ao participar da Missa no Rito
Extraordinário, era de que o padre rezava de costas para o povo. Esta é uma
interpretação errônea e grotesca. O padre rezava voltado para Deus. Muitos podem pensar que isto é apenas uma troca
de palavras, mas não é. Ao celebrar voltado para Deus, tanto o sacerdote como a
assembleia exprimem sua participação no mistério de amor de Jesus Cristo. Além
do mais, explica o Papa Bento XVI, rezar voltado para Deus era um costume que
atendia à piedade cristã de se rezar voltado para o oriente, lugar de onde
nasceu Jesus. Nas Igrejas de São João de Latrão e de Santa Maria Maior, até o
século IX o altar ficava na nave central da Igreja e a cadeira do bispo na parede
oriental, também chamada de abside.
Mas no tempo do Papa Gregório Magno, o altar foi deslocado mais proximamente da
cadeira episcopal, pelo fato de que naquela nova localização, era certeza de
que ele estava bem em cima do túmulo de São Pedro.
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Ao assumir
o pontificado em 2005, o cardeal Joseph Ratzinger, hoje Bento XVI, propôs uma
reforma da reforma: na qual o sacerdote rezaria voltado para Deus e voltado
para a assembleia ao mesmo tempo. Bento XVI implantou o uso de uma cruz em cima
do altar e ao lado quatro, seis ou sete castiçais com velas acesas. Desta
forma, o antigo costume volta. Neste arranjo, carinhosamente chamado de arranjo
beneditino em homenagem ao papa, a cruz fica voltada ao sacerdote, mas não por
ele, e sim pelo altar, que é onde celebramos o sacrifício. Desta forma, o
sacerdote não oferece o sacrifício para a assembleia, mas ambos caminham para
um mesmo rumo, a cruz de Cristo.
Eis, então,
a proposta feita pelo papa de colocar a cruz no centro do altar, de maneira que
todos, na Liturgia Eucarística, possam olhar para o Senhor, orientando deste
modo suas orações e seus corações.
O Arranjo Beneditino de nossa paróquia |
Mas, podem
surgir pessoas que dizem: “Ah! Mas eu não
enxergo nada, não gosto deste arranjo”. Para estes pensamentos, o Mons.
Guido Marini, Mestre de Cerimônias Papais nos dá a resposta:
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Mons. Guido Marini |
“ Os fieis
não devem olhar para o celebrante naquele momento litúrgico. Devem olhar para o
Senhor. Tal como o Senhor olha para aquele que preside a celebração A cruz não
impede a vista; pelo contrário, abre-lhe o horizonte para o mundo de Deus,
leva-a a contemplar o mistério.”
Ademais,
hoje cada vez mais aumenta o número de fieis interessados em participar da
Santa Missa no Rito Extraordinário. Por isso que o Papa Bento XVI publicou,
sobre a forma de Motu Próprio, o Summorum
Pontificum, que autoriza a celebração do Rito Extraordinário em qualquer
localidade. O próprio papa expressa sua opinião ao afirmar que o Rito
Extraordinário nunca foi totalmente ab-rogado, ou seja, extinto. Para que seja
celebrada a Missa no rito antigo, duas coisas essenciais são necessárias por
parte dos sacerdotes: alto grau de formação
litúrgica e domínio fluente da língua latina. Mas, ao mesmo tempo que
aconselha a se celebrar dessa maneira, o Papa também admite a existência de
exageros vinculados ao Rito Extraordinário. Por isso, celebremos sempre com sobriedade, solenidade e sacralidade.
REFERÊNCIAS
BENTO XVI,
Carta Apostólica sob a forma de Motu Próprio Summorum Pontificum. Edições Paulinas – São Paulo, 2007
MARINI,
GUIDO M. LITURGIA Mysterium Salutis.
Edizione San Paolo – Milão, 2010
BENTO XVI, Introdução ao Espírito da Liturgia
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