Quarto dia: O DOM DE CIÊNCIA
TODOS -
Vinde, Espírito Santo, e enviai do Céu um raio da vossa luz. Iluminai a nossa
mente e o nosso coração, para que possamos contemplar o mundo e as coisas do
mundo, a vida, os acontecimentos e as pessoas no seu verdadeiro valor, tal como
Deus os vê.
LEITOR - Com esta oração, começamos hoje a implorar
o dom de Ciência, um dos dons que precisamos pedir ao Espírito Santo, porque
nos faz muita falta. O Papa João Paulo II dizia que, graças a esse dom, o
Espírito Santo nos dá a conhecer “o verdadeiro valor das coisas criadas na sua
relação com o Criador”, ou seja, o sentido autêntico que as coisas do mundo têm
aos olhos de Deus, e, portanto, o sentido que deveriam ter também aos nossos
olhos. Quer dizer que o dom de ciência faz com que possamos enxergar “com os
olhos de Deus” a finalidade, o significado e o valor da natureza, dos bens
materiais, do nosso corpo, do sexo, da saúde, da dor, do prazer, do trabalho e
do descanso, em resumo, de todas as realidades deste mundo.
TODOS -
Divino Espírito Santo, iluminai as nossas mentes e os nossos corações, para que
possamos contemplar e entender todas as coisas do mundo e da vida com a luz de
Deus, e não com a visão deturpada do materialismo, do egoísmo e do hedonismo.
LEITOR - Todos temos a experiência de que as realidades
deste mundo nos atraem. Elas têm um encanto, um fascínio, que lhes vem de Deus,
porque são obra d’Ele. Mas - depois que o pecado entrou no mundo - esse
encantamento das criaturas ficou ambíguo e perigoso: tanto pode cativar-nos com
uma atração boa, que eleva para Deus, como seduzir-nos e desviar-nos com uma
atração má, que leva à perdição. A atração boa é a admiração, o deleite que
experimentamos ao contemplarmos, extasiados, a beleza das obras de Deus. É
aquela sensação de enlevo que temos ao contemplar as maravilhas da natureza, o
fascínio do mar num dia ensolarado; ou a beleza da paisagem que se avista do
alto de uma montanha; ou, ainda, a graça, a riqueza e a variedade dos seres
vivos - da “criaçãozinha de Deus”, como dizia um poeta - e sobretudo a grandeza
e beleza do ser humano, da mulher, do homem, da criança…, assim como das
maravilhas que os seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus,
foram capazes de realizar ao longo dos séculos no campo das artes, das
ciências, da técnica… Através dessa contemplação e mediante o dom de ciência, o
Espírito Santo nos move a cantar a glória de Deus e as suas grandezas, e a
viver numa contínua ação de graças. É isso o que levava, por exemplo, São
Francisco de Assis à alegria de louvar a Deus pelo sol, pela lua, pelo vento,
pela água, pelo fogo, por todas as criaturas: «Louvado sejais, meu Se-nhor, no
conjunto de todas as vossas criaturas, especialmente pelo irmão sol… Ele é belo
e radiante com grande esplendor, e traz o vosso sinal, ó Altíssimo… Louvado
sejais, meu Senhor, pela irmã água, a qual é muito útil e humilde e preciosa e
casta…»
TODOS - E
ainda dizia: «Louvado sejais, meu Senhor, pelo irmão fogo, pelo qual iluminais
a noite, e ele é belo e alegre e vigoroso e forte… Louvado sejais, meu Senhor,
por nossa irmã e mãe terra, que nos alimenta e produz variados frutos e
coloridas flores e ervas… ».
LEITOR - E tão bonito lembrar que São Francisco
exultava de alegria, louvando o irmão pássaro, o irmão jumentinho, o irmão
lobo… E, sobretudo, louvando o bom coração dos seus irmãos os homens: «Louvado
sejais, meu Senhor, por aqueles que perdoam por vosso amor, e por amor suportam
as enfermidades e tribulações…». Ele, como todas as almas puras, via nas
criaturas a marca da mão de Deus que as fez; e especialmente nos seres humanos
via a marca sagrada da dignidade dos filhos de Deus. Os santos aprenderam isso
com Jesus que, com as suas parábolas, ensinava os mais elevados mistérios de
Deus utilizando-se de comparações tiradas da natureza: do campo, da pesca, das
aves do céu; e da vida cotidiana dos homens: o semeador, a mulher que prepara o
pão, a viúva que dá uma esmolinha, o homem que constrói uma torre, o rei que
convida ao casamento do filho… Esse é o olhar certo. Dele falava São Paulo aos
romanos: De fato, as perfeições invisíveis de Deus são percebidas pela
inteligência através das suas obras, desde a criação do mundo. É o mesmo
pensamento que se encontrava no Livro da Sabedoria, quando fala dos insensatos
que não souberam reconhecer o Artista divino, considerando as suas obras.
Quando nós vemos as coisas com os olhos de Deus, respeitamos o plano que o
Senhor quis para elas, a ordem santa da Criação, a lei de Deus que, pelo nosso
bem, nos manda respeitar — sem exceções — a vida humana desde o primeiro instante
da concepção até a morte natural; a santa lei de Deus que manda viver a
castidade e respeitar, assim, a grandeza do sexo, que Ele destinou ao amor fiel
e à procriação dentro do casamento; a santa lei de Deus que nos ensina a usar
de maneira sóbria, justa e temperada as riquezas materiais, o
alimento, a bebida, o esporte, as distrações e os prazeres sadios do mundo; sem
esquecer-nos nunca do que Jesus dizia: De que serve ao homem ganhar o mundo
inteiro, se vem a perder a sua alma? Esta vida em harmonia com a Vontade de
Deus é que é a autêntica “vida boa”, a única que nos pode dar a paz e a
felicidade aqui na terra e depois no Céu. Aí está é a verdadeira “ciência” do
viver. A falsa ciência, pelo contrário, é aquela atitude que não quer saber da
lei de Deus nem dos seus planos sábios e santos, e só quer obedecer à lei do
egoísmo, do desejo e do gosto: essa é a “atração má” de que falávamos antes.
TODOS - É
pena que poucos o entendam assim e se deixem arrastar pela visão mundana, que
faz do prazer egoísta, do dinheiro e da ambição um ídolo que atropela a fé e a
moral, que acaba com a saúde física e psíquica - nesses horrores do alcoolismo,
das drogas, das desordens sexuais! - que pulveriza o amor humano e arruína a
família.
LEITOR - Será que tudo isso não mexe conosco, e nos
faz compreender o dever grave que temos de dar exemplo com a nossa conduta
moral, de cuidar mais da educação da consciência moral dos filhos, ajudando-os
a entender o valor da lei de Deus; e de lutarmos, de maneira positiva, para difundir
a verdade sobre a dignidade do ser humano, sobre o matrimônio estável e fiel,
sobre o erro das aberrações do aborto e da eutanásia…? Que acham se fazemos uma
pausa, para pensar um pouco? (pausa de silêncio)
TODOS -
Divino Espírito Santo, dai-nos forças para sermos testemunhas da verdade de
Deus, da felicidade que se consegue seguindo fielmente o que Deus nos pede, o
que a moral da Santa Igreja nos ensina; e não permitais que os nossos filhos se
percam na confusão materialista deste mundo: que não sejam iludidos por
amizades ou por mestres desorientados, nem pelo mau uso da Internet e de outros
meios de comunicação.
LEITOR - Mas a nossa meditação sobre o dom de
ciência ficaria incompleta se não falássemos de outro modo maravilhoso de ver o
mundo com os olhos de Deus. Dizíamos que a criação, vista com olhos puros, nos
leva a louvar a Deus e também a descobrir que a harmonia e o bem da criação só
se alcança obedecendo a lei que o Criador lhe deu. Mas Deus nos mostra ainda
outra beleza. Ele nos ensina que, no mundo, os nossos trabalhos, até mesmo os
mais materiais, os deveres cotidianos simples e sem brilho, podem e devem ser
um grande «caminho de santificação». Vale a pena meditá-lo brevemente, e nada
melhor, para isso, do que escutar palavras de um santo que, na nossa época, foi
o mensageiro escolhido por Deus para difundir essa doutrina: São Josemaria
Escrivá. Escutemos, pois, alguns dos seus ensinamentos, tirados de uma
belíssima homilia: «O mundo não é ruim, porque saiu das mãos de Deus… Nós, os
homens é que o fazemos ruim e feio, com os nossos pecados e as nossas
infidelidades». Dentro deste mundo que, em si mesmo, é bom, «Deus nos espera em
cada dia: no laboratório, na sala de operações de um hospital, no quartel, na
cátedra universitária, na fábrica, na oficina, no campo, no seio dom lar e em
todo o imenso panorama do trabalho. Não esqueçam nunca: há algo de
santo, de divino, escondido nas situações mais comuns, algo que a cada um de
nós compete descobrir». E esse algo de santo, de divino consiste na
possibilidade que temos a toda hora de fazer o trabalho e de cumprir o dever,
mesmo nos detalhes mais insignificantes - desde que se trate de tarefas
honestas - com amor a Deus e amor ao próximo, como uma oferenda para Deus e um
serviço aos irmãos. «Eu lhes asseguro, meus filhos - dizia São Josemaria - que
quando um cristão desempenha com amor a mais intranscendente das ações diárias,
está desempenhando algo de onde transborda a transcendência de Deus… Não há
outro caminho: ou sabemos encontrar o Senhor na nossa vida de todos os dias, ou
não o encontraremos nunca».
TODOS -
Assim se entende que a santidade seja possível para todos, que esteja ao
alcance de todos os cristãos de boa vontade: mulheres e homens, casados e
solteiros, trabalhadores manuais e trabalhadores intelectuais…
LEITOR - E assim se entende que nós, os cristãos,
possamos ver o casamento e a família na sua dimensão divina: como uma vocação
para a santidade e o serviço aos outros; e também que possamos encarar o
trabalho profissional como uma vocação de Deus para sermos santos nas próprias
incidências do afazer cotidiano e fazermos apostolado com colegas, amigos,
parentes … A vocação cristã no meio do mundo é um grande ideal! E, como a
Igreja ensina, é uma vocação de amor, uma chamada a ser, como diz São Paulo, filhos
de Deus, santos e irrepreensíveis na sua presença. Mas a verdade é que já
estamos na hora de encerrar este encontro, e, por isso, penso que será bom
terminar, por um lado, pedindo a graça do Espírito Santo para que, por meio do
dom de ciência, nos faça compreender e amar esse ideal de santidade no mundo;
e, por outro, fazendo o propósito concreto — é a sugestão deste dia —de
examinarmos se trabalhamos com amor, sob o olhar de Deus e com o coração
voltado para o bem dos outros, e se evitamos no dia-a-dia, o mais possível,
voltar-nos para nós mesmos e para os nossos interesses egoístas.
TODOS -
Que Deus abençoe as nossas tarefas e nos ajude a cumprir nossos propósitos!
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