Nono dia: O DOM DE PIEDADE (para com o próximo)
TODOS -
Vinde, Espírito Criador, visitai as almas dos vossos fiéis; enchei de graça
celestial os corações que vós criastes; Vós, que sois chamado o Consolador, o
Dom do Deus Altíssimo, fonte viva, fogo, caridade e unção espiritual.
LEITOR - Hoje completamos a nossa meditação sobre
os sete dons do Espírito Santo, e pedimos luz ao Paráclito para compreender bem
a segunda manifestação do dom de Piedade, que - como víamos ontem - é a piedade
para com o próximo. Como definiríamos esse dom? Com certeza, aqui também nos pode
ajudar o que dizia João Paulo II, que, aliás, já lembramos no último encontro:
“Mediante o dom de piedade, o Espírito Santo sana em nosso coração todo tipo de
dureza e o abre à ternura para com Deus e para com os irmãos”. Sobre esse
último aspecto, o Papa acrescentava que o dom de piedade nos comunica a ternura
em forma de uma “abertura autenticamente fraterna para com o próximo, que se
manifesta na mansidão”. Ao mesmo tempo, dizia que esse dom “extingue no coração
todos os focos de tensão e divisão, tais como a amargura, a cólera e a
impaciência; e alimenta a alma com sentimentos de compreensão, de tolerância e
de perdão”. Não acham que é um fantástico panorama de amor cristão? Não é isso
o que todos nós desejaríamos praticar?
TODOS -
Meu Deus, só por causa dessas palavras que acabamos de ouvir já dá vontade de
parar e meditar sobre tantas falhas diárias de amor que nós temos. Muitas
faltas de caridade! Que pena que muitas vezes nem nos demos conta delas e até
achemos que são naturais! Supliquemos a Deus que perdoe a nossa falta de
“ternura”, e nos conceda a piedade tal como João Paulo II a descreve.
LEITOR - Acho que agora, que reconhecemos isso,
estamos em condições de meditar me-lhor sobre as palavras do Papa. Sem dúvida,
todos nós já percebemos que João Paulo II fala, em primeiro lugar, da
“mansidão”, como manifestação de “ternura fraterna”. E lembra que, para vivê-la
bem, é preciso “extinguir os focos de tensão e divisão”, e concretamente: “a
amargura, a cólera e a impaciência”. Parece-me natural que Jesus, que nos deu
como mandamento principal o do amor a Deus e ao próximo, tenha pedido que
pratiquemos a mansidão, porque sem ela o amor ao próximo fica abalado. Aprendei
de mim - dizia Cristo - que sou manso e humilde de coração. Não é
por acaso que Ele coloca juntas essas duas virtudes, a humildade e a mansidão,
porque são duas irmãs gêmeas, inseparáveis. Sem humildade é impossível ter
mansidão. A maior parte dos pecados de ira, como as explosões de cólera, as
irritações, as raivas e as impaciências procedem da falta de humildade, de que
nos colocamos como centro de tudo, e qualquer coisa que nos contraria ou nos
humilha provoca em nós uma reação de orgulho ferido, de irritação, de protesto.
A respeito disso, vou sugerir que meditemos, fazendo depois uma pausa de
reflexão silenciosa, umas palavras impressionantes de São Paulo, na sua Carta
aos Colossenses. São as seguintes: Deixai de lado a ira, animosidade,
maledicência, maldade, palavras torpes da vossa boca… Como eleitos de Deus,
santos e queridos, revesti-vos de entranhada misericórdia, de bondade,
humildade, mansidão e paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos
mutuamente, toda vez que tiverdes queixa contra alguém. Como o Senhor vos
perdoou, assim perdoai também vós. (Pausa de silêncio)
TODOS - É
bem claro que o orgulho é a raiz venenosa da falta de amor ao próximo. Mas,
como podemos vencer o orgulho e adquirir a humildade? Como conseguiremos
extinguir os focos de divisão, a amargura, a cólera e a impaciência?
LEITOR - Em primeiro lugar, rezando, pedindo
humildemente: “Jesus, manso e humilde de coração, fazei o meu coração
semelhante ao vosso”. Em segundo lugar, colaborando com esta graça que pedimos
- no caso, o dom de piedade - por meio da nossa luta para purificar a alma dos
nossos maus sentimentos e maus hábitos, dos defeitos do nosso mau caráter, que
são como espinhos que ferem o próximo. Alguns autores espirituais recomendam
fazer exercícios de paciência: 1) Não repreender quando sentimos a indignação
pela falta cometida - como diz São Jo-semaria Escrivá. Esperar até acalmar; 2)
Fazer o esforço de escutar pacientemente a todos, se possível com um sorriso
dos lábios; 3) não queixar-nos nem andar comentando a toda a hora as nossas
dores de cabeça, de barriga ou de coluna nem, em geral, qualquer outro tipo de
mal-estar, mas oferecer a Deus o sofrimento, e fazer boa cara; 4) Não usar
nunca as frases do Dicionário da Impaciência: “Você sempre faz isso!”, “De
novo”, “Já é a terceira vez!”, “Já estou cansado”, etc.,
etc.; 5) Evitar cobranças insistentes e antipáticas, e ajudar os outros
com paciência, lembrando-lhes sem rispidez as coisas que esqueceram e
estimulando-os a fazê-las; 6) não implicar com pequenos maus hábitos ou
cacoetes dos outros, mas deixá-los passar como quem nem repara neles: mania de
bater na cadeira, de fazer ruído com a boca, de deixar luzes acesas e portas
abertas; 7) saber repetir calmamente as nossas explicações a quem não as
entende; 8) não buzinar na rua com raiva, e nunca olhar para a cara do
motorista “barbeiro” (não vendo-lhe a cara, é difícil ter raiva dele); 9) rezar
quando a ira começa a ferver, como aquela mãe impaciente que se tornou
“rezadora”, e dizia nessas horas: “Mãe de misericórdia, rogai por nós (por mim
e por esse moleque danado)”; e, quando começava a estourar uma discussão
conjugal: “Meu Deus, que eu veja aí a cruz e saiba oferecer-Vos essa
contrariedade! Rainha da paz, rogai por nós!”… São só alguns exemplos. Mas já
veem que isso ficou muito longo. E o que fazer, para praticar esse outro
aspecto da piedade, que é a compreensão e o perdão, tão difíceis de viver?
Sobre a compreensão, muitos bons orientadores espirituais aconselham a
fazer-nos estas perguntas: Eu amo só a “imagem ideal” que fiz dessa pessoa que
não consigo compreender, aquela imagem com que sonhei (por exemplo, quando
iniciei o namoro), ou estou disposto a amar a “imagem real”, ou seja, a pessoa
real que convive comigo dia-a-dia, a pessoa como ela é? - Porque a tal “imagem
ideal” (o que nós gostaríamos que os outros fossem e nos achamos no direito de
exigir-lhes que sejam) nos impede de “entender”, de “compreender” a pessoa
real, de ver por que é assim, por que responde assim, por que age assim. Só
após um sério esforço de compreensão é que podemos amá-la - querê-la bem - e
ajudá-la pouco a pouco, com paciência, a ser melhor. Dá para entender? Sei que
isso exigiria uma longa conversa, mas o tempo não nos permite tê-la.
TODOS -
Mas, mesmo que seja brevemente, ainda há tempo de nos perguntar-mos, a respeito
do perdão, o que fazer quando não conseguimos perdoar as pessoas que nos
ofendem ou prejudicam, mesmo querendo perdoar, mesmo sabendo que Jesus nos pede
isso: perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem
ofendido?
LEITOR - Para dar uma resposta breve, talvez a
melhor coisa seja recordar o conselho que dá o Catecismo da Igreja Católica (n.
2843): “Não está em nosso poder não mais sentir e esquecer a ofensa; mas o
coração que se entrega ao Espírito Santo transforma a ferida em compaixão e
purifica a memória, transformando a ofensa em intercessão”. Quer dizer, nós nem
sempre somos donos das nossas emoções e sentimentos, mas podemos fazer duas
coisas: esforçar-nos por ver o pecado do outro como o que é aos olhos de Deus,
uma ferida que o machuca sobretudo a ele mesmo, e termos dor disso; e, depois,
rezar - aí está a “intercessão” - mesmo que não “sintamos” afeto ou simpatia
pela pessoa por quem rezamos.
TODOS -
Que bonita é a expressão do Catecismo, que fala de sermos “um coração que se
entrega ao Espírito Santo”. Agora que este encontro está chegando ao fim, vamos
fazer essa entrega, pelo menos com o desejo: - Divino Espírito Santo, Deus,
Amor, eu quero entregar-vos o meu coração. Aceitai-o, ainda que esteja manchado
e seja fraco e, como reza a I-greja, “acendei nele o fogo do vosso Amor”, para
eu possa transmiti-lo aos outros em forma de compreensão e de perdão. Divino
Espírito Santo, nós vos agradecemos, e ficamos com a convicção, bem clara e
definitiva, de que só o Amor, o vosso Amor, é capaz de “renovar a face da
terra”.
LEITOR - Encerrando o nosso nono dia, o último dia
da novena, eu sugeriria, como propósito concreto, examinar com toda a
sinceridade as nossas faltas de ternura, de mansidão, de paciência, de
compreensão e de perdão; e começar propondo-nos alguns “exercícios” práticos de
paciência e caridade, semelhantes aos que há pouco nos foram lembrados.
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