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sexta-feira, 17 de maio de 2013

Novena de Pentecostes: Oitavo Dia



Oitavo dia: O DOM DE PIEDADE (para com Deus)

TODOS - Ó Deus, fonte de toda a piedade e santidade, derramai em nossas almas a graça do Espírito Santo e fazei com que, movidos pelo dom de piedade, tratemos convosco com a afeição dos filhos muito amados.

LEITOR - Hoje vamos meditar sobre o dom de Piedade, mas, antes de começar, precisamos fazer um esclarecimento. A palavra piedade, na linguagem cristã, tem dois sentidos. Significa, por um lado, devoção, relacionamento afetuoso com Deus, com Maria, com os Anjos e com os santos. Por outro, significa compaixão, dó, atenção carinhosa aos males, desorientações e sofrimentos do próximo. Neste dia consideraremos apenas o primeiro sentido. Qual poderia ser, então, uma primeira definição do dom da Piedade para com Deus? O Papa João Paulo II diz que é o dom que cura a dureza do nosso coração e o abre à ternura para com Deus; um dom que cria em nós sentimentos de carinho filial e de profunda confiança em Deus, a quem vemos como Pai providente e bom. É deste dom que falava São Paulo, quando dizia: A prova de que sois filhos é que Deus enviou aos vossos corações o Espírito do seu Filho - o divino Espírito Santo - que clama “Abá”, Pai! Portanto já não és escravo, mas filho. O Espírito Santo é o grande fruto da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Ao redimir-nos, Ele ganhou para nós o dom do Espírito Santo, o mesmo Espírito de Amor que inundava a sua alma e o fazia invocar seu Pai celestial com essa palavra aramaica, que São Paulo cita duas vezes: Abá (Pai, Papai, Paizinho), uma palavra que os primeiros cristãos conservavam e repetiam com imenso carinho.

TODOS - Pai nosso, que estais nos Céus e nos nossos corações, concedei-nos o dom de piedade, que nos ajude a viver como filhos muito amados de Deus; a pensar como filhos, a vos tratar como filhos, a corresponder ao vosso amor com carinho de filhos.

LEITOR - Sabem qual é uma das primeiras coisas que o Espírito Santo nos ajuda a fazer, com o dom de piedade? Pois bem, a primeira coisa é ensinar-nos a orar, a conversar de maneira íntima e confiada com Deus. São Paulo diz, na Carta aos Romanos, que nós não sabemos orar como convém, mas que o Espírito Santo intercede por nós, e nos ajuda a fazer verdadeira oração, auxiliando-nos com seus gemidos, suas inspirações inefáveis. É tão fácil cair no engano de fazer uma oração que não seja verdadeira oração! É o caso, por exemplo, das pessoas que só rezam quando estão muito preocupadas e aflitas, mas depois se esquecem totalmente de rezar e até de agradecer; ou dos que caíram na rotina ruim: pessoas que fazem habitualmente umas rezas por puro costume, mas de modo mecânico, sem pensar no que dizem, nem colocar o coração em Deus, nem se preocupar por melhorar um pouco. A essa oração, Santa Teresa chamava “chacoalhar de latas”. E vocês sabem o que é ainda pior do que isso? É dizer que, como é tão fácil se distrair ao rezar, é melhor só fazer oração nos momentos em que temos vontade de orar e “sentimos” o gostinho da oração. Confundem a oração com o bolo de chocolate. A oração deles, no fundo, é uma “oração de consumo”, quer dizer, que só a fazem quando lhes dá prazer. Da mesma maneira que assistem cinema, vão passear ou tomam sorvete de maracujá só quando têm vontade. Essas pessoas confundem a autenticidade com seu gosto e prazer pessoal. Dizem: Só vou à Missa quando sinto vontade, não quero ir se não “sinto”; ir sem vontade, só por obrigação, não seria autêntico. Que erro tremendo! Os maiores atos de amor custam sacrifício, constituem deveres importantes (por exemplo, a mãe e o pai que sacrificam tantas coisas pelos filhos) e muitas vezes têm que ser feitos a contragosto, contra as nossas “vontades”, mas querendo (com uma decisão da vontade). A mãe sacrificada sente vontade de descansar, de se divertir, mas “dá o sangue” pelo filho.  Como é fácil confundir a “vontade” - que é a capacidade de escolher, decidir e querer o que é bom, ainda que custe - com as “vontades”, que não passam de desejos volúveis e de caprichos pessoais. Jesus praticou o máximo ato de amor, que foi dar a vida por nós na Cruz, querendo-o com toda a força da sua “vontade”, mas sem sentir “vontade” nenhuma: Meu Pai - dizia no Horto - se é possível afasta de mim este cálice! Todavia não se faça o que eu quero, mas o que tu queres . Por que nós não somos capazes de amar Deus assim? Ele, por exemplo, nos chama na Missa, ele nos espera na Missa, ele se entrega a nós na Missa…, e nós respondemos dizendo-lhe que não temos vontade”. Paremos um instante para meditar nisso. (pausa de silêncio)

TODOS - Realmente é absurda essa falsa autenticidade, e é uma tentação forte, não só para adolescentes e jovens, mas também para pessoas que se julgam muito maduras. Que Deus nos livre de ter uma religião “de consumo”, esse tipo de religião que se pratica só para obter vantagens ou para “sentir-se bem”; ou seja, para agradar-nos a nós mesmos, e não para agradar a Deus.

LEITOR - Acho que seria bom que todos nós, com muita humildade, pedíssemos a Jesus, como os Apóstolos: Senhor, ensina-nos a orar! E, com certeza, nosso Senhor nos responderá, como respondeu a eles: Quando orardes, dizei: Pai. É para isso que o dom de Piedade nos é dado, para que a oração seja, acima de tudo, um ato de amor filial. Essa oração de filhos é como o arco-íris: tem muitas cores. Umas vezes basta dizer: “Meu Deus, eu te amo!”. Outras, limitar-se a ficar diante do sacrário como aquele lavrador que explicava ao Santo Cura d’Ars o tipo de oração que fazia: “Eu olho para Ele, e Ele olha para mim”. Outras é ter a simplicidade de pedir o que necessitamos, sobretudo para a nossa alma e para o bem dos outros. Será que nos esquecemos da insistência tremenda com que Jesus nos move a pedir: Pedi e recebereis, buscai e achareis, batei e vos será aberto… Se vós, sendo maus, sabeis dar coisas boas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem. Isso prova que Deus gosta da nossa petição confiante e a deseja, desde que esteja impregnada do espírito da segunda petição do Pai-nosso: seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. E, ainda poderíamos acrescentar que é muito bom fazer orações que consistam apenas em dar graças; ou em ficar lendo e contemplando a vida de Jesus e de Maria; ou em dizer com simplicidade: “Senhor, que não sei fazer oração”, mas quero dedicar-vos esse tempo, mesmo que seja só para vos fazer companhia e repetir: “Senhor, ajudai-me”. E, além disso, vamos lembrar como é bom rezar todos os dias as orações da manhã e da noite; e, sempre que possível, rezar o “Anjo do Senhor” ao meio-dia; e - tomara que todos nós o fizéssemos - o Terço, que é a oração preferida de Nossa Senhora: Ela a ama tanto, que a recomendou pessoalmente quando apareceu em Lourdes e Fátima…  Tudo isso nos traz ao pensamento como Cristo gosta de que sejamos simples de coração: Se não vos fizerdes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus. As crianças não se complicam, sabem que são fracas, pequenas, que dão tombos e se machucam, que fazem tolices; mas, depois de umas lagriminhas nos braços da mãe ou do pai, voltam a brincar contentes, porque sabem que são queridas e se sentem protegidas; elas confiam totalmente nos pais.  Pois, olhem, justamente essa confiança filial é um dos frutos específicos do dom de Piedade, como recorda João Paulo II, com umas palavras que citávamos anteriormente: o dom de Piedade - diz o papa - enriquece a alma com sentimentos de profunda confiança para com Deus, experimentado como Pai Providente e Bom”. É maravilhoso constatar que essa confiança pode ser vivida a cada hora, a cada minuto da nossa vida, da maneira mais simples do mundo, exercitando a fé na Providência, compreendendo que nosso Pai Deus nos acompanha com carinho a cada instante, como dizia Jesus: Não vos inquieteis; vosso Pai vê; vosso Pai sabe; não cai um passarinho do ninho sem a sua licença. Sim, Deus nos acompanha com zelo amoroso e, muitas vezes, as horas em que ele está mais perto de nós são justamente aquelas em que - por causa de um sofrimento, de uma contrariedade - achamos que nos abandonou… mas, como dizia São Paulo: Deus faz concorrer todas as coisas para o bem daqueles que o amam. Por isso nos ajuda tanto fazer muitos atos de presença de Deus - “Senhor, creio que estás aqui, que me vês, que me ouves” - atos de fé e amor que nos movem a oferecer a Deus tudo o que fazemos, e, em consequência, a realizá-lo com a maior perfeição possível: com amor, com capricho. Isso é viver o dom de piedade nas menores coisas de cada dia.

TODOS - Divino Espírito Santo, concedei-nos o dom de piedade, para que possamos experimentar a imensa alegria de viver como filhos de Deus, de nos sentirmos filhos muito queridos de um Pai todo-poderoso que nos vê, que nos ama e nos escuta, e que nos acompanha em cada um dos nossos passos. Que saibamos cumprir cada dever, cada tarefa, mesmo as muito pequenas, com perfeição de amor, e oferecê-las a Deus desde que amanhece o dia.

LEITOR - Com isso, penso que podemos encerrar este oitavo dia da novena. Eu sugeriria, como propósito concreto, prepararmos cada um de nós com carinho - inclusive por escrito - um plano de vida espiritual, em que fiquem definidas, com seus horários, as orações e leituras espirituais que nos propomos a fazer diariamente; e também os sistemas práticos de lembrar-nos mais da presença de Deus ao longo do dia, como, por exemplo, orações breves, jaculatórias, olhares à imagem de Cristo e da Virgem Santíssima, etc. E me parece bem próprio deste dia, em que meditamos sobre o dom de Piedade, terminar rezando um Pai nosso.

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