Caros leitores, encerrando o dia solene de Nossa
Senhora Aparecida, convido a todos para uma breve leitura espiritual sobre esta
festa. Mais especificamente, um trecho da homilia do Beato João Paulo II na
Dedicação da Basílica em 1980. Meditemos:
Da Homilia na
Dedicação da Basílica Nacional de Aparecida, do papa João Paulo II
(Pronunciamentos
do Papa no Brasil, Edit.
Vozes,
Petrópolis 1980, 125. 128. 129. 130)
(Séc.XX)
A devoção a Maria é fonte de vida cristã profunda
“Viva a Mãe de Deus e nossa, sem pecado concebida! Viva a Virgem
Imaculada, a Senhora
Aparecida!”
Desde que pus os pés em terra brasileira, nos vários pontos por onde
passei, ouvi este cântico.
Ele é, na ingenuidade e singeleza de suas palavras, um grito da alma,
uma saudação, uma
invocação cheia de filial devoção e confiança para com aquela que, sendo
verdadeira Mãe de
Deus, nos foi dada por seu Filho Jesus no momento extremo da sua vida
para ser nossa Mãe.
Sim, amados irmãos e filhos, Maria, a Mãe de Deus, é modelo para a
Igreja, é Mãe para os
remidos. Por sua adesão pronta e incondicional à vontade divina que lhe
foi revelada, torna-se
Mãe do Redentor, com uma participação íntima e toda especial na história
da salvação. Pelos
méritos de seu Filho, é Imaculada em sua Conceição, concebida sem a
mancha original,
preservada do pecado e cheia de graça.
Ao confessar-se serva do Senhor (Lc 1,38) e ao pronunciar o seu
sim, acolhendo “em seu
coração e em seu seio” o mistério de Cristo Redentor, Maria não foi instrumento
meramente
passivo nas mãos de Deus, mas cooperou na salvação dos homens com fé
livre e inteira
obediência. Sem nada tirar ou diminuir e nada acrescentar à ação daquele
que é o único
Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, Maria nos aponta as vias
da salvação, vias que
convergem todas para Cristo, seu Filho, e para a sua obra redentora.
Maria nos leva a Cristo, como afirma com precisão o Concílio Vaticano
II: “A função maternal
de Maria, em relação aos homens, de modo algum ofusca ou diminui esta
única mediação de
Cristo; antes, manifesta a sua eficácia. E de nenhum modo impede o
contato imediato dos fiéis
com Cristo, antes o favorece”.
Mãe da Igreja, a Virgem Santíssima tem uma presença singular na vida e
na ação desta mesma
Igreja. Por isso mesmo, a Igreja tem os olhos sempre voltados para
aquela que, permanecendo
virgem, gerou, por obra do Espírito Santo, o Verbo feito carne. Qual é a
missão da Igreja senão
a de fazer nascer o Cristo no coração dos fiéis, pela ação do mesmo
Espírito Santo, através da
evangelização? Assim, a “Estrela da Evangelização”, como a chamou o meu
Predecessor Paulo
VI, aponta e ilumina os caminhos do anúncio do Evangelho. Este anúncio
de Cristo Redentor,
de sua mensagem de salvação, não pode ser reduzido a um mero projeto
humano de bem-estar e
felicidade temporal. Tem certamente incidências na história humana
coletiva e individual, mas
é fundamentalmente um anúncio de libertação do pecado para a comunhão
com Deus, em Jesus
Cristo. De resto, esta comunhão com Deus não prescinde de uma comunhão
dos homens uns
com os outros, pois os que se convertem a Cristo, autor da salvação e
princípio de unidade, são
chamados a congregar-se em Igreja, sacramento visível desta unidade
humana salvífica.
Por tudo isto, nós todos, os que formamos a geração hodierna dos
discípulos de Cristo, com
total aderência à tradição antiga e com pleno respeito e amor pelos
membros de todas as
comunidades cristãs, desejamos unir-nos a Maria, impelidos por uma
profunda necessidade da
fé, da esperança e da caridade. Discípulos de Jesus Cristo neste momento
crucial da história
humana, em plena adesão à ininterrupta Tradição e ao sentimento
constante da Igreja, impelidos
por um íntimo imperativo de fé, esperança e caridade, nós desejamos
unir-nos a Maria. E
queremos fazê-lo através das expressões da piedade mariana da Igreja de
todos os tempos.
A devoção a Maria é fonte de vida cristã profunda, é fonte de
compromisso com Deus e com os
irmãos. Permanecei na escola de Maria, escutai a sua voz,segui os seus
exemplos. Como
ouvimos no Evangelho, ela nos orienta para Jesus: Fazei o que ele vos
disser (Jo 2,5). E, como
outrora em Caná da Galiléia, encaminha ao Filho as dificuldades dos
homens, obtendo dele as
graças desejadas. Rezemos com Maria e por Maria: ela é sempre a “Mãe de
Deus e nossa”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários ofensivos serão excluídos