Venerados irmãos,
Queridos irmãos e irmãs!
Hoje a Igreja escuta mais uma vez
estas palavras de Jesus, pronunciadas durante o caminho rumo a Jerusalém, onde
devia cumprir-se o seu mistério de paixão, morte e ressurreição. São palavras
que manifestam o sentido da missão de Cristo na terra, marcada pela sua
imolação, pela sua doação total. Neste terceiro domingo de outubro, no qual se
celebrar o Dia Mundial das Missões, a Igreja as escuta com uma intensidade
particular e reaviva a consciência de viver totalmente em um perene estado de
serviço ao homem e ao Evangelho, como Aquele que se ofereceu a si mesmo até o
sacrifício da vida.
Dirijo a minha cordial saudação a
todos vós, que encheis a Praça de São Pedro, nomeadamente as Delegações
oficiais e os peregrinos vindos para festejar os novos sete Santos. Saúdo com
afeto os Cardeais e Bispos que nestes dias estão participando da Assembléia
sinodal sobre a Nova Evangelização. É providencial a coincidência entre esta
Assembléia e o Dia das Missões; e a Palavra de Deus que acabamos de escutar se
mostra iluminadora para ambas. Esta nos mostra o estilo do evangelizador,
chamado a testemunhar e anunciar a mensagem cristã conformando-se a Jesus
Cristo, seguindo a Seu mesma vida.
O Filho do homem veio para servir
e dar a sua vida como resgate para muitos (cf. Mc 10,45)
Estas palavras constituíram o
programa de vida dos sete beatos que a Igreja hoje inscreve solenemente na
gloriosa fileira dos Santos. Com coragem heróica eles consumiram a sua
existência na consagração total a Deus e no serviço generoso aos irmãos. São
filhos e filhas da Igreja, que escolheram a vida do serviço seguindo o Senhor.
A santidade na Igreja teve sempre a sua fonte no mistério da Redenção, que já
prefigurava o profeta Isaías na primeira Leitura: o Servo do Senhor, o justo
que «fará justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas» (Is 53,11);
este Servo é Jesus Cristo, crucificado, ressuscitado e vivo na glória. A
celebração hodierna constitui uma confirmação eloquente dessa misteriosa realidade
salvífica. A tenaz profissão de fé destes sete discípulos generosos de Cristo,
a sua conformação ao Filho do Homem resplandece hoje em toda a Igreja.
Jacques Berthie, nascido em 1838,
na França, foi desde muito cedo um enamorado de Jesus Cristo. Durante o seu
ministério paroquial, desejou ardentemente salvar as almas. Ao fazer-se
jesuíta, queria percorrer o mundo para a glória de Deus. Pastor incansável na
Ilha de Santa Maria e depois em Madagascar, lutou contra a injustiça, levando
alívio para os pobres e enfermos. Os malgaxes o consideravam um sacerdote vindo
do céu, e diziam: Tu és o nosso “pai e mãe”! Ele se fez tudo para todos,
haurindo na oração e no amor do Coração de Jesus a força humana e sacerdotal
para enfrentar o martírio, em 1896. Morreu dizendo: «Prefiro antes morrer que
renunciar à minha fé». Queridos amigos, que a vida deste evangelizador seja um
encorajamento e um modelo para os sacerdotes, para que sejam homens de Deus
como ele o foi! Que o seu exemplo ajude os numerosos cristãos que são
perseguidos por causa da sua fé nos dias de hoje! Que a sua intercessão,
durante este ano da fé, produza frutos em Madagascar e no Continente africano!
Que Deus abençoe o povo malgaxe!
Pedro Calungsod nasceu
aproximadamente no ano 1654, na região de Visayas, nas Filipinas. Seu amor a
Cristo o inspirou a preparar-se como catequista com os missionários jesuítas da
região. Em 1668, junto com outros dois jovens catequistas, acompanhou o Padre
Diego Luiz de San Vitores para as Ilhas Marianas com o fim de evangelizar o
povo Chamorro. Nesse lugar, a vida era difícil e os missionários enfrentaram a
perseguição nascida da inveja e de calunias. Pedro, contudo, demonstrou uma
grande fé e caridade, e continuou catequizando os seus muitos convertidos,
dando testemunho de Cristo através de uma vida de pureza e dedicação ao
Evangelho. O seu desejo de ganhar almas para Cristo se sobrepunha a tudo, e
isso o levou a aceitar decididamente o martírio. Morreu no dia 2 de abril de
1672. Algumas testemunhas contaram que Pedro poderia ter fugido para um lugar
seguro, mas escolheu permanecer ao lado do Padre Diego. O sacerdote, antes de
ser morto, pôde dar a absolvição a Pedro. Que o exemplo e o testemunho corajoso
de Pedro Calungsod inspire o dileto povo das Filipinas a anunciar corajosamente
o Reino e ganhar almas para Deus!
Giovanni Battista Piamarta,
sacerdote da Diocese de Brescia, foi um grande apóstolo da caridade e da
juventude. Percebia a necessidade de uma presença cultural e social do
catolicismo no mundo moderno, por isso se dedicou ao progresso cristão, moral e
profissional das novas gerações, com a sua esplêndida humanidade e bondade.
Animado por uma confiança inabalável na Providência Divina e de um profundo
espírito de sacrifício, enfrentou dificuldades e fatigas para dar vida a
diversas obras apostólicas, entre as quais: o Instituto dos pequenos artesãos,
a Editora Queriniana, a Congregação masculina da Sagrada Família de Nazaré e a
Congregação das Humildes Servas do Senhor. O segredo da sua vida, intensa e
ativa, residia nas longas horas que ele dedicava à oração. Quando estava
sobrecarregado pelo trabalho, aumentava o tempo do encontro, de coração a
coração, com o Senhor. Demorava-se de muito bom grado junto do Santíssimo
Sacramento, meditando a paixão, morte e ressurreição de Cristo, para alcançar a
força espiritual e voltar a lançar-se, sempre com novas iniciativas pastorais,
à conquista do coração das pessoas, sobretudo dos jovens, para levá-los de
volta para as fontes da vida.
«Sobre nós venha, Senhor, a vossa
graça, pois, em vós, nós esperamos!» Com essas palavras, a liturgia nos convida
a fazer nosso este hino a Deus criador e providente, aceitando o seu plano nas
nossas vidas. Assim o fez Santa Maria del Carmelo Salles y Barangueras,
religiosa nascida em Vic, Espanha, em 1848. Vendo a sua esperança preenchida,
após muitas dificuldades, ao contemplar o progresso da Congregação das
Religiosas Concepcionistas Missionárias do Ensino, pôde cantar junto com a Mãe
de Deus: «Seu amor de geração em geração, chega a todos que o respeitam». A sua
obra educativa, confiada à Virgem Imaculada, continua a dar frutos abundantes
entre os jovens e através da entrega generosa das suas filhas que, como ela, se
confiam ao Deus que pode tudo.
Passo agora para Marianne Cope,
nascida em 1838 em Heppenheim, na Alemanha. Com apenas um ano de vida, foi
levada para os Estados Unidos, e em 1862 entrou na Ordem Terceira Regular de
São Francisco, em Siracusa, Nova Iorque. Mais tarde, como Superiora geral da
sua congregação, Madre Marianne abraçou voluntariamente a chamada para ir
cuidar dos leprosos no Havaí, depois da recusa de muitos. Ela partiu, junto com
seis irmãs da sua congregação, para administrar pessoalmente um hospital em
Oahu, fundando em seguida o Hospital Mamulani, em Maui, e abrindo uma casa para
meninas de pais leprosos. Cinco anos depois, aceitou o convite para abrir uma
casa para mulheres e meninas na Ilha de Molokai, partindo com coragem e,
encerrando assim seu contato com o mundo exterior. Ali, cuidou do Padre Damião,
então já famoso pelo seu trabalho heróico com os leprosos, assistindo-o até a
sua morte e assumindo o seu trabalho com os leprosos. Em uma época em que pouco
se podia fazer por aqueles que sofriam dessa terrível doença, Marianne Cope
demonstrou um imenso amor, coragem e entusiasmo. Ela é um exemplo luminoso e
valioso da melhor tradição de religiosas católicas dedicadas à enfermagem e do
espírito do seu amado São Francisco de Assis.
Kateri Tekakwitha nasceu no que
hoje é o Estado de Nova Iorque, em 1656, filha de pai Mohawk e de mãe Algoquin
cristã, que lhe transmitiu a fé no Deus vivo. Foi batizada aos 20 anos de
idade, para escapar da perseguição, se refugiou na Missão São Francisco Xavier,
perto de Montreal. Ali ela trabalhou, fiel às tradições culturais do seu povo,
embora renunciando as convicções religiosas deste, até a sua morte com 24 anos.
Levando uma vida simples, Kateri permaneceu fiel ao seu amor por Jesus, à
oração e à Missa diária. O seu maior desejo era saber e fazer aquilo que
agradava a Deus.
Kateri impressiona-nos pela ação
da graça na sua vida, carente de apoios externos, e pela firmeza na sua vocação
tão particular na sua cultura. Nela, fé e cultura se enriqueceram mutuamente!
Possa o seu exemplo nos ajudar a viver lá onde nos encontremos, sem renunciar
àquilo que somos, amando a Jesus! Santa Kateri, protetora do Canadá e primeira
santa ameríndia, nós te confiamos a renovação da fé entre os povos nativos e em
toda a América do Norte! Que Deus abençoe os povos nativos!
A jovem Anna Schäffer, de Mindelstetten,
quis entrar em uma congregação missionária. Nascida em uma família humilde, ela
conseguiu, trabalhando como doméstica, acumular o dote necessário para poder
entrar no convento. Neste emprego, sofreu um grave acidente com queimaduras
incuráveis nos seus pés, que a prenderam em um leito pelo resto da vida. Foi
assim que o seu quarto de enferma se transformou em uma cela conventual, e o
seu sofrimento, em serviço missionário. Inicialmente se revoltou contra o seu
destino, mas em seguida, compreendeu que a sua situação era uma chamada amorosa
do Crucificado para O seguisse. Fortalecida pela comunhão diária, tornou-se uma
intercessora incansável através da oração e um espelho do amor de Deus para as
numerosas pessoas que procuravam conselho. Que o seu apostolado de oração e de
sofrimento, de oferta e de expiação seja para os crentes de sua terra um
exemplo luminoso e que a sua intercessão fortaleça a atuação abençoada dos
centros cristãos de curas paliativas para doentes terminais.
Queridos irmãos e irmãs! Estes
novos Santos, diferentes pela sua origem, língua, nação e condição social,
estão unidos com todo o Povo de Deus no mistério de Salvação de Cristo, o
Redentor. Junto a eles, também nós aqui reunidos com os Padres sinodais,
provenientes de todas as partes do mundo, proclamamos, com as palavras do
salmo, que Senhor é «o nosso auxílio e proteção», e pedimos: «sobre nós venha,
Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamos» (Sal 32,
20-22). Que o testemunho dos novos Santos, a sua vida oferecida generosamente
por amor a Cristo, possa falar hoje a toda a Igreja, e a sua intercessão possa
reforçá-la e sustentá-la na sua missão de anunciar o Evangelho no mundo
inteiro.
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