O Evangelho deste Domingo apresenta-nos Jesus na sua Nazaré. Ali
mesmo, na sua própria cidade, onde nascera e fora criado, os seus o
rejeitam: “’Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de
Tiago, de Joset, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui
conosco?’ E ficaram escandalizados por causa dele”. Assim, cumpre-se
mais uma vez a Escritura: “Veio para o que era seu e os seus não o
receberam” (Jo 1,11). E a falta de fé foi tão grande, a dureza de
coração, tão intensa, a teimosia, tão pertinaz, que São Marcos afirma,
de modo surpreendente: “Ali não pôde fazer milagre algum!”, tão grande
era a falta de fé daquele povo.
Meus caros, pensemos bem na advertência que esta Palavra de Deus nos
faz! O próprio Filho do Pai, em pessoa, esteve no meio do seu povo,
conviveu com ele, falou-lhe, sorriu-lhe, abraçou-lhe e, no entanto, não
foi reconhecido pelos seus. E por quê? Pela dureza de coração, pela
insistência teimosa em esperar um messias de encomenda, sob medida, a
seu bel prazer… Valia bem para Israel a censura da primeira leitura de
hoje, na qual o Senhor Deus se dirige a seu servo: “Filho do homem, eu
te envio aos israelitas, nação de rebeldes, que se afastaram de mim. A
estes filhos de cabeça dura e coração de pedra, vou-te enviar, e tu lhes
dirás: ‘Assim fala o Senhor Deus’. Quer escutem, quer não, ficarão
sabendo que houve entre eles um profeta!” Que coisa tremenda, meus
caros: houve entre os israelitas um profeta, e mais que um profeta: o
Filho de Deus, o Eterno, o Filho amado… E Israel o rejeitou!
Mas, deixemos Israel. E nós? Acolhemos o Senhor que nos vem?
Escutamos com fé sua Palavra, quando ele se dirige a nós na Escritura,
aquecendo nosso coração? Acolhemo-lo na obediência da fé, quando ele se
nos dirige pela boca da sua Igreja católica, ensinando-nos o caminho da
vida? Acolhemo-lo, quando nos fala pela boca de seus profetas? Não
tenhamos tanta certeza de que somos melhores que aqueles de Nazaré!
Aliás, é bom que nos perguntemos: por que os nazarenos não foram capazes
de reconhecer Jesus como Messias? Já lhes disse: porque o Senhor não
era um messias do jeito que eles esperavam: um simples fazedor de
milagres, um resolvedor de problemas… Jesus, pobre, manso, humilde, era
também exigente e pedia do povo a conversão de coração. Mas, há também
uma outra razão para os nazarenos rejeitarem Jesus: eles foram incapazes
de ver além das aparências. De fato, enxergaram em Jesus somente o
filho de José, aquele que correra e brincara nas suas praças, aquele ao
qual eles haviam visto crescer. Assim, sem conseguir olhar com mais
profundidade, empacaram na descrença. Mas, nós, conseguimos olhar com
profundidade? Somos capazes de escutar na voz dos ministros de Cristo a
própria voz do Senhor? Somos sábios o bastante para ouvir na voz da
Igreja a voz de Cristo?
É exatamente pela tendência nossa, tremenda, de sermos surdos ao
Senhor, que Jesus tanto sofreu e que Paulo se queixava das dificuldades
do seu ministério. O Apóstolo fala de um anjo de Satanás que o
esbofeteava. Que anjo era esse? Ele mesmo explica: suas “fraquezas,
injúrias, necessidades, perseguições e angústias sofridas por amor de
Cristo”. O drama de Paulo é uma forte exortação aos pregadores do
Evangelho e a todos os cristãos. Aos pregadores do Evangelho essa
palavra do Apóstolo recorda que o anúncio será sempre numa situação de
pobreza humana, de apertos e contradições. A evangelização, caríssimos,
não é um trabalho de marketing televisivo como vemos algumas vezes nos
“missionários” dos meios de comunicação. O Evangelho do Cristo
crucificado e ressuscitado, é proclamado não somente pela palavra do
pregador, mas também pela carne de sua vida. Como proclamar a Palavra
sem sofrer por ela? Como anunciar o Crucificado que ressuscitou sem
participar da sua cruz na esperança firme da sua ressurreição? O
Evangelho não é uma teoria, não é um sistema filosófico. O Evangelho é
Cristo Jesus encarnado na nossa vida, de modo que possamos dizer como
São Paulo: “Eu trago no meu corpo as marcas de Jesus” (Gl 6,17) Triste
do pregador que pensar em anunciar Jesus conservando-se para si mesmo.
Um diácono, um padre, um bispo, que quisessem se poupar, que separasse a
pregação do seu modo de viver, que fosse pregador de ocasião,
tornar-se-ia um falso profeta, transformar-se-ia em marketeiro do
Evangelho, portanto, inútil e estéril. É toda a vida do pregador que
deve ser envolvida na pregação: seu modo de viver, de agir, de vestir,
de relacionar-se com os bens materiais, sua vida afetiva, seu modo de
divertir-se, seu tipo de amizade… Tudo nele dever ser comprometido com o
Senhor e para o Senhor!
Mas, essa palavra de São Paulo na liturgia de hoje vale também para
cada cristão. Hoje, somos minoria. O mundo não-crente, seculartizado
zomba de nós e já não crê no anúncio de Cristo que lhe fazemos. Sentimos
isso na pela! Pois bem, quando experimentarmos a frieza e a dura
rejeição, quando em casa, no trabalho, nos círculos de amizades, formos
ignorados ou ridicularizados por sermos de Cristo, recordemos do
Evangelho de hoje, recordemo-nos dos sofrimentos dos apóstolos e
retomemos a esperança: o caminho de Cristo é também o nosso; se
sofrermos com ele, com ele reinaremo; se morrermos com ele, com ele
viveremos (cf. 2Tm 2,11-12) Não tenhamos medo: nós somos as testemunhas,
os profetas, os sinais de luz que Deus envia ao mundo de hoje! Sejamos
fiéis: o Senhor está conosco, hoje e sempre. Amém.
Dom Henrique Soares da Costa
Fonte: www.presbiteros.org
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários ofensivos serão excluídos