O
tema da liturgia deste domingo, por coincidência, nesta ocasião em que o
Brasil se prepara para receber o Santo Padre Francisco e milhares de
jovens oriundos do mundo inteiro, é a hospitalidade.
Tanto na
primeira leitura, que fala da visita de Deus a Abraão e Sara, como no
Evangelho, que relata a visita de Jesus Cristo a Lázaro, Marta e Maria,
Deus vem a nós como qualquer pessoa e deseja ser acolhido.
A
primeira leitura versa sobre a tarefa que temos quando fazemos um ato de
caridade, de solidariedade a pessoas desconhecidas. Temos dificuldades
porque ignoramos quem é a pessoa, não conhecemos seu modo de ser e de
agir e nos sentimos inseguros. Por outro lado, temos a alegria de saber
que iremos acolher uma pessoa que, com prazer, vem até nós, que confia
em nosso amor, em nossa capacidade de acolher. Nessa ocasião nos
lembramos das palavras de Jesus: “Quem acolhe um desses pequeninos, me
acolhe e quem me acolhe, acolhe o Pai que me enviou.” Abraão não sabia
que acolhia Deus, mas só no final teve consciência de que hospedou e
serviu o Deus Altíssimo nas pessoas daqueles três homens. Também nós
acolhemos essa juventude estrangeira em nome de Jesus, em nome de Deus.
Eles estão vindo para um encontro com o Senhor, além de se encontrarem
também com o Vigário desse mesmo Senhor, o Papa, Vigário de Jesus
Cristo.
Na primeira leitura, três desconhecidos chegaram à tenda
de Abraão em um momento inoportuno. Fazia o maior calor do dia e Abraão
fazia sua sesta. Todavia, ao vê-los ao longe, ele se levanta e se dirige
aos visitantes e lhes dá as boas-vindas. Faz com que se sintam à
vontade, traz água para que lavem os pés e vai tomar outras providências
para bem recebê-los. Mais tarde, aparece com uma lauta refeição: pão
quentinho, carne assada de novilho, coalhada e leite. O texto não cita,
mas certamente tâmaras e outras frutas faziam parte da refeição, além de
outras bebidas.
Podemos dizer que, com sua generosidade, Abraão
providenciou o máximo que ele podia e ofereceu um autêntico banquete do
deserto.
Abraão não se senta, permanece de pé. Ele está
disponível para servi-los, chama-os de "meu Senhor". Por outro lado, os
visitantes se comportam de modo diferente de outras visitas e perguntam
pela dona da casa e demonstram saber seu nome. Ao fazerem alusão à sua
esterilidade, promete-lhes um filho no espaço de um ano.
Já o relato da visita de Jesus à família de Betânia traz à nossa reflexão a dimensão espiritual que pode conter uma visita e sua acolhida, como a atual visita do Papa Francisco e dos jovens provenientes do mundo inteiro.
Na
preparação da casa para acolher esses hóspedes tão ilustres, certamente
as donas de casa e seus colaboradores estiveram e estão muito
atarefados para que nada falte aos visitantes e para que todos se sintam
muito bem acolhidos.
No Evangelho, Marta age do mesmo modo e
reclama da irmã porque se sente só nos afazeres domésticos. Certamente
existe no coração dela uma pontinha de ciúmes da irmã que está sentada
escutando o Senhor.
Jesus não critica Marta por chamar sua irmã
para ajudá-la nos afazeres e nem elogia Maria porque, aparentemente,
está desligada, não percebendo o "sufoco" da irmã. Marta é censurada por
Jesus porque está "preocupada e agitada por muitas coisas"; está
dispersa em meio a tantos afazeres. Maria é elogiada porque está na
"escuta da Palavra", de Jesus, a Palavra do Pai.
Por outro lado,
Marta deveria ter-se envolvido no trabalho somente após ter escutado a
Palavra. Isso faria com que ela buscasse o equilíbrio e não caísse na
agitação e no excesso de trabalho.
Certamente, Maria viu a
reação da irmã e se levantou, colocou o avental e foi trabalhar. Por sua
vez, Marta deixou o avental e foi acalmar-se aos pés de Jesus, quando
este a censurou.
A acolhida mais importante é a feita à Palavra
de Deus. Ela irá nos ensinar a acolher todas as pessoas. Contudo,
seremos mais felizes se estivermos no seguimento de Abraão e de Maria,
acolhendo a Palavra nos dois sentidos: tanto em escutar o Senhor, a
Palavra encarnada, como em servi-la com nossos préstimos, deixando que
ela fale através de nossos gestos, acolhendo o Verbo em nós, para
oferecê-lo aos outros, como fez Maria de Nazaré.
Do mesmo modo como Maria de Betânia e como Maria de Nazaré, com serenidade, conservemos tudo no silêncio de nosso coração.
Deixemos
de lado o oba oba da viagem de Francisco ao Brasil e prestemos atenção
em suas homilias, em seus recados falados e não falados. Do mesmo modo, o
jovem hóspede que está em nosso lar, nos traz a presença universal da
Igreja, o anúncio do Evangelho feito ao mundo inteiro. Como os cristãos
do Livro dos Atos dos Apóstolos, ouçamos com carinho e atenção sua
palavra e saibamos que sob o teto de nosso lar está um enviado de Deus.
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