Dos
Sermões de São Leão Magno, papa
(Sermo
I in Nativitate Domini)
Toma
consciência, ó Cristão, da tua dignidade
Hoje, amados
filhos, nasceu o nosso Salvador. Alegremo-nos. Não pode haver tristeza no dia
em que nasce a vida; uma vida que, dissipando o temor da morte, enche-nos de
alegria com a promessa da eternidade.
Ninguém está
excluído da participação nesta felicidade. A causa da alegria é comum a todos,
porque nosso Senhor, vencedor do pecado e da morte, não tendo encontrado
ninguém isento de culpa, veio libertar a todos. Exulte o justo, porque se
aproxima da vitória; rejubile o pecador, porque lhe é oferecido o perdão;
reanime-se o pagão, porque é chamado à vida.
Quando chegou a
plenitude dos tempos, fixada pelos insondáveis desígnios divinos, o Filho de
Deus assumiu a natureza do homem para reconciliá-lo com seu Criador, de modo
que o demônio, autor da morte, fosse vencido pela mesma natureza que antes
vencera.
Eis por que, no
nascimento do Senhor, os anjos cantam jubilosos: Glória a deus nas alturas;
e anunciam: Paz na terra aos homens de boa vontade (Lc 2,14). Eles
vêem a Jerusalém celeste ser formada de todas as nações do mundo. Diante dessa
obra inexprimível do amor divino, como não devem alegrar-se os homens, em sua
pequenez, quando os anjos, em sua grandeza, assim se rejubilam?
Amados filhos,
demos graças a Deus Pai, por seu Filho, no Espírito Santo; pois, na imensa
misericórdia com que nos amou, compadeceu-se de nós. E quando estávamos
mortos por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo (Ef 2,5)
para que fôssemos nele uma nova criação, nova obra de suas mãos.
Despojemo-nos,
portanto, do velho homem com seus atos; e tendo sido admitidos a participar do
nascimento de Cristo, renunciemos às obras da carne.
Toma
consciência, ó cristão, da tua dignidade. E já que participas da natureza
divina, não voltes aos erros de antes por um comportamento indigno de tua
condição. Lembra-te de que cabeça e de corpo és membro. Recorda-te que foste
arrancado do poder das trevas e levado para a luz e o reino de Deus.
Pelo sacramento
do batismo te tornaste templo do Espírito Santo. Não expulses com más ações tão
grande hóspede, não recaias sob o jugo do demônio, porque o preço de tua
salvação é o sangue de Cristo.
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