Uma imagem muito comum neste tempo pascal é aquela do Cordeiro “de
pé, como que imolado” (Ap 5,6). Este Cordeiro, eternamente diante do
trono do Pai, é o Cristo no seu estado de perpétua imolação e glória, de
entrega sacrifical e ao mesmo tempo vitoriosa, por nós. Mas,
misteriosamente, este Cordeiro é também Pastor: “O Cordeiro que está no
meio do trono será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água da
vida”. Que imagem impressionante: um cordeiro que é pastor que dá vida
às ovelhas. Pois bem, Jesus afirmou: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor
dá a vida pelas suas ovelhas” (Jo 10,11). Estejamos atentos: este dar a
vida possui dois sentidos: primeiro: Cristo nos dá a vida porque morre
por nós, por nós entrega sua vida humana: “Eu dou minha vida pelas
minhas ovelhas” (Jo 10,15). É, portanto, um pastor que ama profundamente
o seu rebanho: “As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e
elas me seguem”. Num segundo sentido, Cristo dá a vida porque transmite
às ovelhas a vida divina, a vida eterna, a vida glorificada que ele
recebeu do Pai na ressurreição: “Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais
se perderão. E ninguém vai arrancá-las de minha mão!” Que afirmações
estupendas! Nosso Pastor, que por nós se fez Cordeiro imolado, dá-nos a
vida eterna e imperecível, uma vida que nos saciará eternamente!
Cristão, compreende: como é grande, como é concreta, como é verdadeira a
tua esperança, como é certa a tua herança!
Esta vida, que o Cordeiro-Pastor nos prepara, é para todos, é em
abundância. Isto já aparece na primeira leitura: diante da recusa dos
judeus como um todo em acolher o Evangelho da salvação em Jesus, o
Apóstolo volta-se para os pagãos: “Era preciso anunciar a palavra de
Deus primeiro a vós, judeus. Mas, como a rejeitais e vos considerais
indignos da vida eterna, sabei que vamos dirigir-nos aos pagãos”. E
estes, cheios do Espírito Santo, ficaram cheios de alegria. Eis! A
salvação que Cristo nos trouxe, com sua morte e ressurreição, com seu
mistério pascal, é plena, é total e é para todos[1]!
É com estas idéias e sentimentos no coração que devemos, agora,
contemplar a estupenda imagem que o Apocalipse nos apresenta na liturgia
de hoje. Toda a humanidade, “uma multidão imensa de gente de todas as
nações, tribos, povos e línguas, que ninguém podia contar”… de pé,
diante do trono e do Cordeiro”. Pensemos bem! É toda esta humanidade tão
sofrida, de vida tão frágil, de esperança tão incerta, que é chamada a
este momento tão grandioso: de pé (posição de quem venceu, de quem está
vivo) diante do trono de Deus e do Cordeiro, o Cristo nosso Senhor,
Aquele que venceu! Observem que nossa esperança nada tem de espírito de
seita. A salvação não é para um grupinho de eleitos que excluem os
demais farisaicamente! Não! Nunca! Deus quer “que todos os homens sejam
salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Os cristãos têm o
dever de olhar o mundo com amor benevolente. Nós, amados por Deus em
Cristo, não podemos guardar só para nós esse amor e essa salvação: é
preciso anunciá-la, comunicá-la, e com um coração bom, benévolo para com
o mundo: nunca uma atitude de seita, de acusação, de fechamento! Dizer a
verdade, sim; anunciar a verdade, sim; denunciar o erro e o pecado,
sim; mas,com uma atitude de amor e respeito, de benignidade, como o
coração do Bom Pastor, que deu a vida pelas ovelhas e quis morrer pelo
rebanho!
Estes eleitos “trajavam vestes brancas” símbolos da glória, de vida,
da pureza e da imortalidade; “traziam palmas na mão”, símbolo da
vitória. Quem são eles? “São os que vieram da grande tribulação. Lavaram
e alvejaram as suas vestes no sangue do Cordeiro”. Que imagem
fantástica! É a multidão dos cristãos de todos os tempos, que
perseveraram e vencerão no combate das tribulações desta vida… às vezes,
até à morte! Pensemos: somos nós, se formos fiéis no combate do Cristo;
somos nós, se perseverarmos e guardarmos a fé e a esperança no Senhor
nas lutas e provações desta vida! Estejamos atentos: “lavaram e
alvejaram as vestes no sangue do Cordeiro!” Sangue bendito e precioso,
que lava, que purifica, que alveja! Nenhum de nós chegará diante do
trono limpo por sua própria limpeza, mas sim pelo sangue do Cordeiro que
é nosso pastor! “Nunca mais terão fome, nem sede. Nem os molestará o
sol, nem algum calor ardente”. Bendito Cordeiro, bendito Pastor, bendito
Cristo-Senhor, que nos dá uma vida tão plena! Ele mesmo nos tinha
prometido: “Quem vem a mim nunca mais terá fome e quem crê em mim nunca
mais terá sede” (Jo 6,35). Bendito Jesus, que é tão fiel! “E o Cordeiro,
que está no meio do trono, será seu pastor e os conduzirá às fontes da
água da vida”. Aonde nos conduzirá o Pastor? Que lugar é este, com tanta
vida e tanto frescor e consolação? Escutem a Palavra: “Aquele que está
sentado no trono os abrigará na sua tenda… E Deus enxugará as lágrimas
de seus olhos!” Eis, irmãos, aonde o Cristo imolado e ressuscitado nos
conduz: à tenda do coração do Pai, para nos aconchegar, para nos
consolar, para nos enxugar as lágrimas, para nos dar a vida em
abundância: “Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e
ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. Eu e o Pai somos uma só coisa!”
É por isso, caríssimos, que a Páscoa de Cristo é também nossa: sua
vitória é penhor da nossa, é certeza de nossa esperança agora e
plenitude um dia. Vivamos fielmente os combates do presente, deixemo-nos
guiar pelo Bom Pastor, lavemos nossas vestes no sangue do Cordeiro e
sejamos herdeiros da vida que ele nos prepara. Ele, bendito pelos
séculos dos séculos. Amém
D. Henrique Soares da Costa
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