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sábado, 15 de fevereiro de 2014

Reflexão para o VI Domingo Comum

Deus nos criou livres e depende de nós a escolha que nos fará felizes. O que dependia do Senhor já foi feito. Ele nos criou à sua imagem e semelhança, ou seja, livres, tendo no íntimo de nosso ser buscar o bem e evitar o mal. Somos feitos pelo Sumo Bem, evidentemente, só poderemos estar voltados para a prática do bem. Contudo o Senhor, exatamente porque nos criou à sua imagem e semelhança, nos fez livres. Como diz a leitura do Livro do Eclesiástico “Diante de ti, Ele colocou o fogo e a água; para o que quiseres, tu podes estender a mão. Diante do homem estão a vida e a morte, o bem e o mal; ele receberá aquilo que preferir”. Consequentemente, cada um de nós é sujeito de sua felicidade ou desgraça, à medida que tiver feito escolhas a favor da vida ou da morte.

Evidentemente, tendo herdado o pecado original, sabemos também que nossa natural inclinação ao bem foi atingida, de modo que, muitas vezes, como nos diz São Paulo, “não faço o bem que quero, mas o mal que não quero”.

No Evangelho vemos a proposta sobre a justiça do Reino dos Céus. Como vimos no domingo passado, somos chamados a sinalizar a aliança de sal, a perene, que não se corrompe. Essa aliança de Deus com cada um dos seres humanos é alimentada por todos nós batizados, que assumimos o projeto do Senhor. Também faz parte de nossa opção aceitarmos essa vocação dada por Jesus, de colaborarmos com Deus na construção da nova sociedade, do Reino de Justiça.

Por fim, a Primeira Carta aos Coríntios nos fala que a perfeição está na sabedoria, mas não na sabedoria deste mundo, muito menos na de seus poderosos, pois ela está voltada para a morte, para a destruição. A Sabedoria de Deus, ao contrário, seu plano de amor em benefício dos homens, está escondida e foi destinada para nossa glória, é o projeto de Deus, sua opção pelos simples, pelos marginalizados. Os poderosos não a conheceram porque, mantendo sua opção, condenaram Jesus à morte e o crucificaram. Contudo, “o que Deus preparou para os que o amam é algo que os olhos jamais viram nem os ouvidos ouviram nem coração algum jamais pressentiu” escreve São Paulo.

Concluindo, a liturgia deste domingo nos exorta a mantermos nossa missão, nossa vocação optando livremente pelo anúncio do projeto de Deus, de anunciar a construção de uma nova sociedade onde a sabedoria de Deus triunfará e os marginalizados deste mundo a conhecerão. Aliás, à medida em que optamos fazer a vontade de Deus, já desfrutamos no próprio ato de fazer o bem, a alegria e a felicidade que almejamos.


domingo, 9 de fevereiro de 2014

Catequese do Papa sobre o Sacramento da Eucaristia

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, falar-vos-ei da Eucaristia. A Eucaristia insere-se no âmago da «iniciação cristã», juntamente com o Baptismo e a Confirmação, constituindo a nascente da própria vida da Igreja. Com efeito, é deste Sacramento do Amor que derivam todos os caminhos autênticos de fé, de comunhão e de testemunho.
O que vemos quando nos congregamos para celebrar a Eucaristia, a Missa, já nos faz intuir o que estamos prestes a viver. No centro do espaço destinado à celebração encontra-se o altar, que é uma mesa coberta com uma toalha, e isto faz-nos pensar num banquete. Sobre a mesa há uma cruz, a qual indica que naquele altar se oferece o sacrifício de Cristo: é Ele o alimento espiritual que ali recebemos, sob as espécies do pão e do vinho. Ao lado da mesa encontra-se o ambão, ou seja o lugar de onde se proclama a Palavra de Deus: e ele indica que ali nos reunimos para ouvir o Senhor que fala mediante as Sagradas Escrituras, e portanto o alimento que recebemos é também a sua Palavra.
Na Missa, Palavra e Pão tornam-se uma coisa só, como na Última Ceia, quando todas as palavras de Jesus, todos os sinais que Ele tinha realizado, se condensaram no gesto de partir o pão e de oferecer o cálice, antecipação do sacrifício da cruz, e naquelas palavras: «Tomai e comei, isto é o meu corpo... Tomai e bebei, isto é o meu sangue».
O gesto levado a cabo por Jesus na Última Ceia é a extrema acção de graças ao Pai pelo seu amor, pela sua misericórdia. Em grego, «acção de graças» diz-se «eucaristia». É por isso que o Sacramento se chama Eucaristia: é a suprema acção de graças ao Pai, o qual nos amou a tal ponto, que nos ofereceu o seu Filho por amor. Eis por que motivo o termo Eucaristia resume todo aquele gesto, que é de Deus e ao mesmo tempo do homem, gesto de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Por conseguinte, a celebração eucarística é muito mais do que um simples banquete: é precisamente o memorial da Páscoa de Jesus, o mistério fulcral da salvação. «Memorial» não significa apenas uma recordação, uma simples lembrança, mas quer dizer que cada vez que nós celebramos este Sacramento participamos no mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo. A Eucaristia constitui o apogeu da obra de salvação de Deus: com efeito, fazendo-se pão partido para nós, o Senhor Jesus derrama sobre nós toda a sua misericórdia e todo o seu amor, a ponto de renovar o nosso coração, a nossa existência e o nosso próprio modo de nos relacionarmos com Ele e com os irmãos. É por isso que geralmente, quando nos aproximamos deste Sacramento, dizemos que «recebemos a Comunhão», que «fazemos a Comunhão»: isto significa que no poder do Espírito Santo, a participação na mesa eucarística nos conforma com Cristo de modo singular e profundo, levando-nos a prelibar desde já a plena comunhão com o Pai, que caracterizará o banquete celestial, onde juntamente com todos os Santos teremos a felicidade de contemplar Deus face a face.
Estimados amigos, nunca daremos suficientemente graças ao Senhor pela dádiva que nos concedeu através da Eucaristia! Trata-se de um dom deveras grandioso e por isso é tão importante ir à Missa aos domingos. Ir à Missa não só para rezar, mas para receber a Comunhão, o pão que é o corpo de Jesus Cristo que nos salva, nos perdoa e nos une ao Pai. É bom fazer isto! E todos os domingos vamos à Missa, porque é precisamente o dia da Ressurreição do Senhor. É por isso que o Domingo é tão importante para nós! E com a Eucaristia sentimos esta pertença precisamente à Igreja, ao Povo de Deus, ao Corpo de Deus, a Jesus Cristo. Nunca compreenderemos todo o seu valor e toda a sua riqueza. Então, peçamos-lhe que este Sacramento possa continuar a manter viva na Igreja a sua presença e a plasmar as nossas comunidades na caridade e na comunhão, segundo o Coração do Pai. E fazemos isto durante a vida inteira, mas começamos a fazê-lo no dia da nossa primeira Comunhão. É importante que as crianças se preparem bem para a primeira Comunhão e que cada criança a faça, pois trata-se do primeiro passo desta pertença forte a Jesus Cristo, depois do Baptismo e da Crisma.

Catequese do Papa sobre o Sacramento da Confirmação

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Nesta terceira catequese sobre os Sacramentos, meditemos sobre a Confirmação ou Crisma, que deve ser entendida em continuidade com o Baptismo, ao qual ela está vinculada de modo inseparável. Estes dois Sacramentos, juntamente com a Eucaristia, formam um único acontecimento salvífico, que se denomina «iniciação cristã», no qual somos inseridos em Jesus Cristo morto e ressuscitado, tornando-nos novas criaturas e membros da Igreja. Eis por que motivo, na origem destes três Sacramentos, eram celebrados num único momento, no final do caminho catecumenal, normalmente na Vigília pascal. Era assim que se selava o percurso de formação e de inserção gradual no seio da comunidade cristã, que podia durar até alguns anos. Procedia-se passo a passo para chegar ao Baptismo, depois à Crisma e enfim à Eucaristia.
Em geral, fala-se de Sacramento da «Crisma», palavra que significa «unção». E com efeito através do óleo, chamado «Crisma sagrado», nós somos confirmados no poder do Espírito, em Jesus Cristo, o Único verdadeiro «Ungido», o «Messias», o Santo de Deus. Além disso, o termo «Confirmação» recorda-nos que este Sacramento contribui com um aumento da graça baptismal: une-nos mais solidamente a Cristo; leva a cumprimento o nosso vínculo com a Igreja; infunde em nós uma especial força do Espírito Santo para difundir e defender a fé, para confessar o nome de Cristo e para nunca nos envergonharmos da sua Cruz (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1.303).
Por isso, é importante prestar atenção a fim de que as nossas crianças, os nossos jovens recebam este Sacramento. Todos nós prestamos atenção para que eles sejam baptizados, e isto é bom, mas talvez não nos preocupemos muito a fim de que recebam a Crisma. Deste modo, eles permanecerão a meio caminho e não receberão o Espírito Santo, que é muito importante na vida cristã, porque nos concede a força para ir em frente. Pensemos um pouco nisto, cada um de nós: preocupamo-nos verdadeiramente para que as nossas crianças, os nossos jovens recebam a Crisma! Isto é importante, é importante! E se vós, em casa, tendes crianças e jovens que ainda não a receberam, e que já estão na idade de a receber, fazei todo o possível para que levem a cumprimento a iniciação cristã e recebam a força do Espírito Santo. É importante!
Naturalmente, é necessário oferecer aos crismandos uma boa preparação, que deve ter em vista levá-los a uma adesão pessoal à fé em Cristo e despertar neles o sentido da pertença à Igreja.
Como cada Sacramento, a Confirmação não é obra dos homens mas de Deus, que cuida da nossa vida, de maneira a plasmar-nos à imagem do seu Filho, para nos tornar capazes de amar como Ele. E fá-lo infundindo em nós o seu Espírito Santo, cuja acção permeia cada pessoa e a vida inteira, como transparece dos sete dons que a Tradição, à luz da Sagrada Escritura, sempre evidenciou. Eis os sete dons: não quero perguntar-vos se vos recordais quais são os sete dons. Talvez todos vós saibais... Mas cito-os em vosso nome. Quais são estes dons? A Sabedoria, a Inteligência, o Conselho, a Fortaleza, a Ciência, a Piedade e o Temor de Deus. E estes dons são concedidos precisamente através do Espírito Santo no Sacramento da Confirmação. Além disso, a estes dons tenciono dedicar as catequeses que se seguirão às reservadas aos Sacramentos.
Quando acolhemos o Espírito Santo no nosso coração e deixamos que Ele aja, é o próprio Cristo que se torna presente em nós e adquire forma na nossa vida; através de nós será Ele, o próprio Cristo, que rezará, perdoará, infundirá esperança e consolação, servirá os irmãos, estará próximo dos necessitados e dos últimos, que criará comunhão e semeará paz. Pensai como isto é importante: mediante o Espírito Santo, é o próprio Cristo que vem para fazer tudo isto no meio de nós e por nós. Por isso, é importante que as crianças e os jovens recebam o Sacramento da Crisma.
Estimados irmãos e irmãs, recordemo-nos que recebemos a Confirmação. Todos nós! Recordemo-lo antes de tudo para dar graças ao Senhor por esta dádiva, e além disso para lhe pedir que nos ajude a viver como cristãos autênticos e a caminhar sempre com alegria segundo o Espírito Santo que nos foi concedido.

Imagens da Santa Missa na Solenidade da Apresentação do Senhor












Homilia do Papa na Solenidade da Apresentação do Senhor

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Basílica Vaticana
Domingo, 2 de Fevereiro de 2014


A festividade da Apresentação de Jesus no Templo é denominada também a festa do encontro: no início da liturgia afirma-se que Jesus vai ao encontro do seu Povo, trata-se do encontro entre Jesus e o seu povo; quando Maria e José levaram o seu Menino ao Templo de Jerusalém, teve lugar o primeiro encontro entre Jesus e o seu povo, representado por dois anciãos, chamados Simeão e Ana.
Tratava-se também de um encontro no contexto da história do povo, um encontro entre os jovens e os anciãos: os jovens eram Maria e José, com o seu recém-nascido; e os anciãos eram Simeão e Ana, duas personagens que frequentavam sempre o Templo.
Observemos o que o evangelista Lucas nos narra acerca deles, como os descreve. De Nossa Senhora e de são José, repete quatro vezes que desejavam cumprir aquilo que estava prescrito pela Lei do Senhor (cf. Lc 2, 22.23.24.27). Vemos, quase sentimos, que os pais de Jesus têm a alegria de observar os preceitos de Deus, sim, o júbilo de caminhar na Lei do Senhor! Eles são dois recém-casados, acabaram de ter o seu filho e sentem-se totalmente animados pelo desejo de cumprir aquilo que está prescrito. Não se trata de um acontecimento exterior, não é algo para se sentir bem, não! É um desejo forte, profundo e repleto de alegria. Eis o que diz o Salmo: «É na observância das vossas ordens que eu me alegro... a vossa lei é a minha delícia» (119 [118], 14.77).
E o que diz são Lucas a propósito destes anciãos? Ressalta mais de uma vez que eles eram orientados pelo Espírito Santo. Acerca de Simeão, afirma que era um homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel, e que «o Espírito Santo estava sobre ele» (2, 25); recorda ainda que «o Espírito Santo lhe tinha revelado» que não ele morreria sem primeiro ter visto Cristo, o Messias (v. 26); e, finalmente, que foi ao Templo «impelido pelo Espírito Santo» (v. 27). Depois, acerca de Ana, diz que ela era uma «profetisa» (v. 36), ou seja, inspirada por Deus; e que estava sempre no Templo, «servindo a Deus noite e dia com jejuns e orações» (v. 37). Em síntese, estes dois anciãos estão cheios de vida! Estão repletos de vida, porque animados pelo Espírito Santo, dóceis ao seu sopro, sensíveis aos seus conselhos...
E eis o encontro entre a Sagrada Família e estes dois representantes do povo santo de Deus. No centro está Jesus. É Ele que move tudo, que atrai uns e outros ao Templo, que é a Casa do seu Pai.
Trata-se de um encontro entre jovens cheios de alegria na observância da Lei do Senhor, e de anciãos repletos de alegria pela obra do Espírito Santo. É um encontro singular entre observância e profecia, onde os jovens são observantes e os anciãos proféticos! Na realidade, meditando bem, a observância da Lei é animada pelo próprio Espírito, e a profecia move-se ao longo do caminho traçado pela Lei. Quem, mais do que Maria, está cheio de Espírito Santo? Quem, mais do que Ela, é dócil à sua acção?
À luz desta cena evangélica, consideremos a vida consagrada como um encontro com Cristo: é Ele que vem até nós, trazido por Maria e José, e somos nós que vamos até Ele, guiados pelo Espírito Santo. Mas no centro está Ele. É Ele que move tudo, é Ele que atrai ao Templo, à Igreja, onde podemos encontrá-lo, reconhecê-lo, recebê-lo e também abraçá-lo.
Jesus vem ao nosso encontro na Igreja, através do carisma de fundação de um Instituto: é bom pensar deste modo na nossa vocação! O nosso encontro com Cristo adquiriu a sua forma na Igreja mediante o carisma de uma sua testemunha, homem ou mulher. Isto surpreende-nos sempre, enquanto nos leva a dar graças!
E inclusive na vida consagrada vivemos o encontro entre os jovens e os anciãos, entre observância e profecia. Não as vejamos como se fossem duas realidades opostas entre si! Pelo contrário, permitamos que o Espírito Santo anime ambas, e o sinal disto é a alegria: o júbilo de observarmos, de caminharmos numa regra de vida; e a alegria de sermos orientados pelo Espírito Santo, nunca rígidos, jamais fechados, mas sempre abertos à voz de Deus que fala, que abre, que conduz e que nos convida a caminhar rumo ao horizonte.
Faz bem aos idosos comunicar a sabedoria aos jovens; e faz bem aos jovens acolher este património de experiência e de sabedoria, e depois levá-lo em frente, não para o conservar num museu, mas para o fazer desenvolver, enfrentando os desafios que a vida nos apresenta; levá-lo em frente, para o bem das respectivas Famílias religiosas e da Igreja inteira.
A graça deste mistério, o mistério do encontro, nos ilumine e nos conforte ao longo do nosso caminho. Assim seja!

Imagens da Celebração de Vésperas na Festa da Conversão de São Paulo

Caros leitores, no último dia 25 de janeiro o Papa Francisco presidiu a Oração das Vésperas na Festa da Conversão de São Paulo na Basílica de São Paulo Fora dos Muros. Esta celebração marcou o encerramento da Semana de Oração Pela Unidade dos Cristãos.

Fotos do Site da Santa Sé









Homilia do Papa na Festa da Conversão de São Paulo

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Basílica de São Paulo Extra-muros
Sábado, 25 de Janeiro de 2014

«Estará Cristo dividido?» (1 Cor 1, 13). Este repto forte, que São Paulo lança quase ao início da sua Primeira Carta aos Coríntios e que ressoou na liturgia desta tarde, foi escolhido por um grupo de irmãos cristãos do Canadá como linha de fundo para a nossa meditação durante a Semana de Oração deste ano.
Com grande tristeza, o Apóstolo soube que os cristãos de Corinto estão divididos em várias facções. Uns afirmam: «Eu sou de Paulo»; outros dizem: «Eu sou de Apolo»; e outros: «Eu sou de Cefas»; e há ainda quem sustente: «Eu sou de Cristo» (cf. 1 Cor 1, 12). Nem sequer estes que pretendem apelar-se a Cristo podem ser elogiados por Paulo, porque usam o nome do único Salvador para se distanciarem dos outros irmãos dentro da comunidade. Por outras palavras, a experiência particular de cada um, o referimento a algumas pessoas significativas da comunidade tornam-se a norma para julgar a fé dos outros.
Nesta situação de divisão Paulo, «em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo», exorta os cristãos de Corinto a serem todos unânimes no falar, para que não haja, entre eles, divisões mas perfeita união de pensar e sentir (cf. 1 Cor 1, 10). Mas a comunhão, a que chama o Apóstolo, não poderá ser fruto de estratégias humanas. De facto, a perfeita união entre os irmãos só é possível referida ao pensamento e aos sentimentos de Cristo (cf. Fil 2, 5). Nesta tarde, encontrando-nos aqui reunidos em oração, sentimos que Cristo – que não pode ser dividido – quer atrair-nos a Si, aos sentimentos do seu coração, ao seu abandono total e íntimo nas mãos do Pai, ao seu esvaziar-se radicalmente por amor da humanidade. Só Ele pode ser o princípio, a causa, o motor da nossa unidade.
Encontrando-nos na sua presença, tornamo-nos ainda mais conscientes de que não podemos considerar as divisões na Igreja como um fenómeno de certo modo natural, inevitável em toda a forma de vida associativa. As nossas divisões ferem o corpo de Cristo, ferem o testemunho que somos chamados a prestar-Lhe no mundo. O Decreto do Vaticano II sobre o ecumenismo, fazendo apelo ao texto de São Paulo que estamos a meditar, afirma significativamente: «Cristo Senhor fundou uma só e única Igreja. Todavia, são numerosas as Comunhões cristãs que se apresentam aos homens como a verdadeira herança de Jesus Cristo. Todos, na verdade, se professam discípulos do Senhor, mas têm pareceres diversos e caminham por rumos diferentes, como se o próprio Cristo estivesse dividido». E, depois, acrescenta: «Esta divisão, porém, contradiz abertamente a vontade de Cristo, e é escândalo para o mundo, como também prejudica a santíssima causa da pregação do Evangelho a toda a criatura» (Unitatis redintegratio, 1). Todos nós fomos prejudicados pelas divisões. Nenhum de nós quer tornar-se um escândalo. E por isso todos nós caminhamos juntos, fraternalmente, pela estrada que leva à unidade, fazendo unidade com o próprio caminhar, aquela unidade que vem do Espírito Santo e conduz-nos a uma singularidade tão especial que só o Espírito Santo pode fazer: a diversidade reconciliada. O Senhor espera-nos a todos, acompanha-nos a todos, está com todos nós neste caminho da unidade.
Queridos amigos, Cristo não pode estar dividido! Esta certeza deve incentivar-nos e suster-nos a continuar, com humildade e confiança, o caminho para o restabelecimento da plena unidade visível entre todos os crentes em Cristo. Apraz-me pensar, neste momento, na obra de dois grandes Papas: os Beatos João XXIII e João Paulo II. Em ambos foi amadurecendo, ao longo do percurso de suas vidas, a consciência de como era urgente a causa da unidade e, uma vez eleitos Bispos de Roma, guiaram decididamente todo o rebanho católico pelas estradas do caminho ecuménico: o Papa João, abrindo caminhos novos e quase impensáveis antes; o Papa João Paulo, propondo o diálogo ecuménico como dimensão ordinária e imprescindível da vida de cada Igreja particular. A eles associo também o Papa Paulo VI, outro grande protagonista do diálogo: justamente nestes dias, recordamos o cinquentenário daquele seu abraço histórico, em Jerusalém, ao Patriarca de Constantinopla Atenágoras.
O obra destes meus antecessores fez com que a dimensão do diálogo ecuménico se tivesse tornado um aspecto de tal modo essencial do ministério do Bispo de Roma, que hoje não se compreenderia plenamente o serviço petrino sem incluir nele esta abertura ao diálogo com todos os crentes em Cristo. Podemos afirmar também que o caminho ecuménico permitiu aprofundar a compreensão do ministério do Sucessor de Pedro e devemos ter confiança de que vai continuar a fazê-lo também no futuro. Ao mesmo tempo que olhamos com gratidão para os passos que o Senhor nos concedeu realizar, mas sem ignorarmos as dificuldades que o diálogo ecuménico atravessa actualmente, peçamos a graça de sermos todos revestidos dos sentimentos de Cristo, para podermos caminhar para a unidade querida por Ele. E caminhar juntos já é fazer unidade!
Neste clima de oração pelo dom da unidade, quero dirigir as minhas cordiais e fraternas saudações a Sua Eminência o Metropolita Gennadios, representante do Patriarcado Ecuménico, a Sua Graça David Moxon, representante em Roma do Arcebispo de Cantuária, e a todos os representantes das diversas Igrejas e Comunidades eclesiais, aqui reunidos nesta tarde. Com estes dois irmãos, em representação de todos, rezámos no Sepulcro de Paulo e dissemos entre nós: «Rezemos para que ele nos ajude nesta estrada, nesta estrada da unidade, do amor, fazendo estrada de unidade». É que a unidade não virá como um milagre no fim: a unidade vem no caminho, fá-la o Espírito Santo no caminho. Se não caminharmos juntos, se não rezarmos uns pelos outros, se não colaborarmos em tantas coisas que podemos fazer neste mundo pelo Povo de Deus, a unidade não virá! A unidade faz-se neste caminho, em cada passo, e não somos nós que a fazemos: fá-la o Espírito Santo, que vê a nossa boa vontade.
Amados irmãos e irmãs, ao Senhor Jesus, que nos tornou membros vivos do seu Corpo, peçamos que nos conserve profundamente unidos a Ele, nos ajude a superarmos os nossos conflitos, as nossas divisões, os nossos egoísmos; e lembremo-nos de que a unidade é sempre superior ao conflito! E nos ajude a vivermos unidos uns aos outros por uma única força, a do amor, que o Espírito Santo derrama nos nossos corações (cf. Rm 5, 5). Amen.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Reflexão para a Solenidade da Apresentação do Senhor

A festa litúrgica da Apresentação do Senhor cai fora do tempo de Natal. Ela celebra Maria e José, obedientes à Lei, levando ao Templo o Menino Jesus, quarenta dias após o seu nascimento.

O Profeta Malaquias, na primeira leitura, fala da ação do Messias, do anjo da aliança, daquele que purificará os filhos de Levi – o chefe da linhagem sacerdotal – tornando aceitável ao Senhor a oblação de Judá e de Jerusalém, como nos primeiros tempos e nos anos antigos.” De fato, tempos depois da instituição do Templo, seu culto se corrompeu e Deus se afastou do lugar sagrado. O tempo da justiça está voltando, o pobre, o inocente, o marginalizado voltarão a ser respeitados e a ter suas necessidades satisfeitas porque o homem voltou a respeitar a aliança com Deus. Toda a injustiça será varrida e o coração do homem será tão bem lavado como a barrela dos lavadeiros torna limpos os tecidos sujos, como o fogo da forja purifica a prata.

Desta leitura podemos apreender que o que quebra a aliança entre Deus e nós é a mesma coisa que quebra nosso relacionamento com o outro. Por isso Jesus disse em MT 5, 23-24, “ se estiveres para trazer a tua oferta ao altar e ali te lembrares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferta ali diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; depois virás apresentar a tua oferta.” Jesus é aquele que se dá ao Pai por nós e, com isso, a aliança é refeita.

No Evangelho de Lucas fica claro a solidariedade de Jesus para com os pobres, Seus pais portam a oferta dos pobres – um par de rolas ou dois pombinhos – e não um cordeiro, como os ricos.

Também as pessoas de Simeão e de Ana simbolizam aqueles que perseveram na fé e na esperança de um mundo melhor, de acordo com os ditames do Reino de Deus e de sua justiça.

Jesus, sinal de contradição dito por Simeão, é a própria luz que ilumina os homens de bem e o fogo que destruirá tudo o que prejudica o ser humano.

Maria é a serva do Senhor, aquela que colocou em prática a vontade do Pai e se entregou totalmente à realização do Reino. Sua opção teve conseqüências já anunciadas por Simeão ao dizer que uma espada atravessaria seu coração. Também nossas opções, se forem a favor do Reino de Deus e sua justiça, nos trarão situações difíceis. Mas não tenhamos medo, Maria estará ao nosso lado e Jesus nos diz que Ele venceu o mundo! (CAS)


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