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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O RIto do Batismo



Caros leitores, enfim publicamos nossa última postagem sobre o sacramento do Batismo. Encerramos esta primeira série sobre o Sacramento, falando sobre o Rito do Batismo. Para tal estudo, tomamos como referência o Ritual do Batismo de Crianças e o Sacramentário. Para o Batismo de adultos, tem que se levar em conta o que ensina e traz o Ritual da Iniciação Cristã de Adultos.

            O Rito do Batismo é dividido em seis partes: acolhida, liturgia da Palavra, liturgia Sacramental, ritos complementares, ritos complementares opcionais e ritos finais.



1.    Ritos de Acolhida
Como em toda ação litúrgica, os ritos de acolhida ou de entrada servem sempre para introduzir os fieis nos mistérios que se vai celebrar e acolher a assembleia participante. Mas no Rito do Batismo, a acolhida é mais do que simplesmente acolhida à assembleia e sim uma acolhida cristã e filial aos que serão batizados e introduzidos na família cristã. Este rito começa estando todos os presentes e próximos ao batistério ou pia batismal. Por parte do celebrante, inicia um diálogo que terminará com pergunta sobre o nome das crianças:

Cel: Queridos pais e mães, vocês transmitiram a vida a estas crianças e as receberam como um dom de Deus, um verdadeiro presente. Que nome vocês escolheram para elas?

Após a indagação do celebrante sobre o nome das crianças, os pais dizem o nome que escolheram em alto e bom som. Ao final, a assembleia aclama: Bendito seja Deus para sempre.
Os pais e padrinho levam seus filhos e afilhados às fontes batismais com o intuito de receber a salvação e o perdão de seus pecados. Por isso, a pergunta seguinte que o celebrante faz é:

Cel: Queridos pais e mães, que pedem à Igreja de Deus para seus filhos e filhas?
Ass: O Batismo!

A resposta deve ser sempre o Batismo. Após de a resposta ser dada, o celebrante continua com a indagação perguntando, primeiramente aos pais, se eles querem ajudá-las a crescer na fé, observando os mandamentos e vivendo na comunidade dos seguidores de Cristo. Ao final os pais respondem sim, queremos! Em seguida pergunta aos padrinhos se eles estão dispostos a fazer o mesmo propósito e por fim pergunta também à assembleia.

Como dito acima, este rito de acolhida visa sobretudo a acolhida e introdução dos que serão batizados no mistério cristão e na comunidade católica aí reunida. Por isso, o rito propriamente de acolhida é o sinal da cruz. O celebrante marca as crianças com o sinal da cruz e diz a seguinte fórmula:

Cel: Nosso sinal é a cruz de Cristo. Por isso vamos marcar estas crianças com o sinal do Cristo Salvador. Assim, N. N., nós os (as) acolhemos na comunidade cristã.


Este sinal é feito pelo celebrante, pelos pais e mães, padrinhos e madrinhas. A próxima etapa é a procissão de entrada que será feita, evidentemente, se os ritos de acolhida tiverem sido feitos à porta da Igreja. Antes porém, o celebrante conclui o rito de acolhida com uma oração:

Cel: Ó Deus, por vosso amor, participamos do mistério da paixão e ressurreição de vosso Filho Jesus Cristo. Fortalecei-nos no Espírito Santo para que caminhemos na vida nova. Por Cristo, nosso Senhor.
Ass: Amém!

Portanto, após essa oração está encerrado o Rito de Acolhida.

2.    Liturgia da Palavra
Como em toda celebração do mistério cristão e principalmente dos Sacramentos, a Palavra de Deus tem um espaço especial e próprio em cada Sacramento. Não é diferente no caso do Batismo. Logo após a entrada dos pais e padrinhos com seus filhos e afilhados na nave da Igreja, é feita a Liturgia da Palavra. Na proclamação da Palavra escolhem-se uma ou duas das seguintes leituras seja do Novo ou do Antigo Testamento, mas uma deve ser do Novo Testamento. Entre as leituras pode ser cantado um salmo responsorial adequado, e antes do Evangelho uma aclamação própria. As leituras podem ser feitas por alguém da comunidade, ou ainda um pai ou mãe ou um dos padrinhos, mas a proclamação do Evangelho sempre reservada ao sacerdote. Posteriormente, o celebrante pode proferir uma breve homilia e depois guardar uns instantes em silêncio.

Após a homilia faz-se a oração dos fieis que pode ser proferida pelo próprio celebrante ou por uma das pessoas presentes na assembleia para o Batismo. No Ritual do Batismo encontramos duas fórmulas de preces. Independente da qual for escolhida, ao final podem ser acrescentadas preces da comunidade. Por fim, as preces se concluem com a invocação dos santos. Mas, toda a prece da assembleia e a invocação dos Santos são omitidas no caso de haver uma procissão até o batistério, quando no caso será cantada a Ladainha de Todos os Santos. Encerrando, os pais e as mães e os padrinhos e madrinhas impõe as mãos sobre as crianças e o sacerdote conclui com a oração:

Cel: Ó Pai, Senhor da vida, enviastes vosso Filho ao mundo para nos libertar da escravidão do pecado e da morte. Lembrai-vos destas crianças que deverão enfrentar muitas vezes as tentações do mal. Libertai-as do poder das trevas. Dai-lhes a força de Cristo e a luz do vosso Espírito, para que, livres do pecado original, vivam sempre como vossos filhos e filhas no seguimento de Jesus. Que vive e reina para sempre, na unidade do Espírito Santo.
Ass: Amém!

Unção Pré-batismal

Neste momento é feita a unção com o óleo dos catecúmenos. O Ritual do Batismo nos traz que esse deve ser um sinal visível e abundante. Por isso, concede-se ao sacerdote a permissão de abençoar o óleo dos catecúmenos no momento da unção. Os pais já devem preparar as crianças de modo a não demorar tanto para a unção. Antes porém, o sacerdote profere a fórmula de ação de graças, após cada invocação a assembleia aclama Bendito seja Deus para sempre. Depois, o celebrante unge o peito das crianças dizendo:

Cel: O Cristo Salvador lhes dê a sua força. Que ela penetre em suas vidas coomo este óleo em seus peitos.



Com a unção batismal está encerrada a Liturgia da Palavra.

3.    Liturgia Sacramental
A liturgia sacramental é o centro do Rito do Batismo, pois é nela que as crianças recebem o Batismo. O rito sacramental começa com a procissão ao batistério e canto da ladainha quando possível. Independente se houver ou não procissão, o celebrante imediatamente passa para o rito de benção da água. Primeiramente, o celebrante convida a comunidade à oração dizendo:

Cel: Meus irmãos e minhas irmãs, sabemos que Deus quis servir-se da água para dar sua vida aos que creem. Unamos nossos corações, suplicando ao Senhor que derrame sua graça sobre os seus escolhidos.

Em seguida o celebrante profere a bênção da água, que pode ser proferida por dois formulários diferentes. Por serem muito extensos, não vamos publicá-los aqui.  Durante um momento da oração, o celebrante mergulha o círio pascal aceso na água e diz:

Cel: Nós vos pedimos, ó Pai, que por vosso Filho desça sobre esta água a força do Espírito Santo. E todos os que, pelo Batismo, forem sepultados na morte com Cristo, ressuscitem com Ele para a vida. Por Cristo, nosso Senhor.
Ass: Amém!



No caso de a água usada tiver sido abençoada na Vigília Pascal, não se mergulha o círio pascal na água.
O último gesto feito antes do Batismo são as promessas batismais feitas pelos pais e padrinhos. Primeiramente o celebrante exorta os fieis e depois prossegue:

Cel: Queridos pais e padrinhos, o amor de Deus vai infundir nestas crianças uma vida nova, nascida da água pelo poder do Espírito Santo. Se vocês estão dispostos a educá-las na fé, renovem agora suas promessas batismais:

Neste momento, então, são feitas as promessas do Batismo:

Cel: Para viver na liberdade dos filhos de Deus, vocês renunciam ao pecado?
Pais e Padrinhos: Renuncio!

Cel: Para viver como irmãos, vocês renunciam a tudo que causa desunião?
P. P.: Renuncio!

Cel: Para seguir Jesus Cristo, vocês renunciam ao demônio, autor e principio do pecado?
P. P.: Renuncio!

Em seguida é feita a profissão de fé:

Cel: Vocês creem em Deus Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra?
P. P: Creio!

Cel: Vocês creem em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, que nasceu da Virgem Maria, padeceu e foi sepultado, ressuscitou dos mortos e subiu ao céu?
P. P.: Creio!

Cel: Vocês creem no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição dos mortos e na vida eterna?
P. P.: Creio!

Cel: Esta é a nossa fé, que da Igreja recebemos e sinceramente professamos, razão de nossa alegria em Cristo, nosso Senhor.
Ass: Graças a Deus!

Terminada a profissão de fé, passa-se imediatamente ao Batismo propriamente dito. Os pais e padrinhos se aproximam do batistério. Antes, porém, o celebrante pergunta mais uma vez aos pais e padrinhos:

Cel: Vocês querem que N. seja batizado na fé da Igreja que acabamos de professar?
P. P.: Queremos!

Depois do último diálogo passa-se então ao Batismo. Convém que a água seja abundante, de modo que o Batismo pareça verdadeiramente uma passagem pela água ou um banho. O Batismo pode ser realizado de três maneiras:

a)    Mergulhando a criança parcial ou totalmente na água;
b)    Derramando água sobre a cabeça da criança e deixando-a escorrer pelo corpo;
c)    Derramando água somente na cabeça.

Em seguida, quem batiza diz:

N., EU TE BATIZO EM NOME DO PAI
Derrama a água pela primeira vez

E DO FILHO
Derrama água pela segunda vez

E DO ESPÍRITO SANTO
Derrama a água pela terceira vez.



O Ritual do Batismo apresenta a opção de que, se for apropriado, pode se fazer a aspersão com água benta sobre os fieis, logo após o Batismo. Neste tempo, faz-se um canto, mas nunca durante o Batismo. As palavras da fórmula do Batismo devem ser ouvidas por todos os presentes.

4.    Ritos Complementares

Unção pós-batismal

Após o momento do Batismo, o celebrante unge a fronte dos neófitos com o óleo do crisma sem dizer nada. Antes, porém, faz uma breve monição descrita no ritual. Caso o número de batizados seja muito grande, pode se omitir esta parte.



Veste Batismal

As crianças são revestidas com a roupa branca para simbolizar que elas nasceram de novo e se revestiram do Cristo. Os pais e padrinhos são chamados a ajudar as crianças em sua missão como filhos e filhas de Deus.

Rito da Luz

As crianças que foram batizadas recebem uma vela acendida no Círio Pascal das mãos de seus padrinhos, enquanto o celebrante proclama Recebam a luz de Cristo.

5.    Ritos Complementares Opcionais

Estes últimos ritos do Batismo são opcionais. Podem ser omitidos quando forem numerosos batizados e mesmo quando for apenas um.

Entrega do Sal

A mãe da criança coloca um pouco de sal na boca de seu filho para representar as palavras de Jesus, que o celebrante dirá:

Cel: Vocês são o sal da terra, disse Jesus.

Éfeta

Lembrando a atitude de Jesus ao dizer efeta, ou seja abre-te, o celebrante toca os ouvidos e a boca de cada criança e diz:

Cel: O Senhor Jesus, que fez os surdos ouvir e os mudos falar, lhe conceda que possa logo ouvir sua Palavra e professar a fé para louvor e glória de Deus Pai.
Ass: Amém!

6.    Ritos Finais

Concluindo a celebração temos os ritos finais, que não podem ser omitidos. Esta última parte do Batismo começa com a oração do Senhor (Pai Nosso), seguida da bênção destinada aos pais, mães, padrinhos e madrinhas e, evidentemente, às crianças. Pode-se, no fim, cantar uma antífona mariana ou fazer uma consagração das crianças à Virgem Maria.
Encerrando, quem preside despede a assembleia com palavras espontâneas, convidando todos a darem o abraço da paz:

Cel: Vão em paz e o Senhor os acompanhe.
Ass: Graças a Deus!



REFERÊNCIA
SACRAMENTÁRIO, Ritual do Batismo de Crianças. 6ª edição. Paulus, São Paulo 2011. p. 15 a 33

SÃO JOÃO BOSCO



"Fiz tudo quanto pude e soube pelos jovens, que são o amor de toda a minha vida"

São João Bosco, rogai por nós!



quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Santa Missa de Envio

 Caros leitores, nesta quarta-feira (30), foi celebrada uma Santa Missa de envio de nossos cinco seminaristas: Alberto, Bruno, Kleison, Guilherme e este que escreve, Antonio. Abaixo temos algumas imagens da celebração.

Comentário inicial
Procissão de entrada
Ritos Iniciais

Liturgia da Palavra

Consagração

Comunhão

Apresentação dos seminaristas
Propósitos

Bênção de envio


Pároco e seminaristas


Missa de Jubileu de Irmãs Carmelitas

 Caros leitores, no último domingo (27) duas irmãs carmelitas comemoram 50 anos de Carmelo, Irmã Maria Assunção e Irmã Teresa Maria. A celebração eucarística foi presidida pelo Frei Avelino Pertile, OCD (Ordem dos Carmelitas Descalços) pároco da Paróquia Nossa Senhora das Vitórias no Boqueirão e concelebrada por diversos sacerdotes, incluindo nosso pároco. Abaixo publico algumas fotos da celebração. Peço desculpas pela qualidade, pois estava num lugar não muito bom!!

Monição

Celebrante e concelebrantes durante a Liturgia da Palavra

Primeira Leitura

Homilia
Preparação das oferendas

Oferecimento do vinho

Epiclese
Consagração do pão

Consagração do vinho

Memento dos falecidos
Assembleia após a comunhão

Oração Pós-comunhão

Bênção final

Imagens das Vésperas da Conversão de São Paulo no Vaticano

Procissão de entrada

Procissão de entrada

Acolhida feita pelo Cardeal para a Unidade dos Cristãos
Ritos Iniciais

"Vinde, ó Deus, em meu auxílio..."

Salmodia

Leitura breve
Incensação do altar durante o Magnificat

Oração conclusiva

Papa Bento XVI

Fonte: Santa Sé

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Catequese do Ano da Fé - "Creio em Deus"

PAPA BENTO XVI
AUDIÊNCIA GERAL
Sala Paulo VI
Quarta-feira, 23 de Janeiro de 2013

 «Creio em Deus»
Queridos irmãos e irmãs,
Neste Ano da fé, hoje gostaria de começar a meditar convosco sobre o Credo, ou seja, sobre a solene profissão de fé que acompanha a nossa vida de fiéis. O Credo começa assim: «Creio em Deus». É uma afirmação fundamental, aparentemente simples na sua essencialidade, mas que abre ao mundo infinito da relação com o Senhor e com o seu mistério. Acreditar em Deus implica adesão a Ele, acolhimento da sua Palavra e obediência jubilosa à sua revelação. Como ensina o Catecismo da Igreja Católica, «a fé é um acto pessoal, uma resposta livre do homem à proposta de Deus que se revela» (n. 166). Portanto, poder dizer que se crê em Deus é um dom — Deus revela-se, vem ao nosso encontro — e, ao mesmo tempo um compromisso, é graça divina e responsabilidade humana, numa experiência de diálogo com Deus que, por amor, «fala aos homens como a amigos» (Dei Verbum, 2), fala-nos a fim de que, na fé e com a fé, possamos entrar em comunhão com Ele.
Onde podemos ouvir Deus e a sua palavra? É fundamental a Sagrada Escritura, onde podemos ouvir a Palavra de Deus que é alimento para a nossa vida de «amigos» de Deus. A Bíblia inteira narra o revelar-se de Deus à humanidade; toda a Bíblia fala de fé e ensina-nos a fé, narrando uma história em que Deus faz progredir o seu desígnio de redenção, tornando-se próximo de nós, homens, através de muitas figuras luminosas de pessoas que acreditam nele e a Ele se confiam, até à plenitude da revelação no Senhor Jesus.
A este propósito, é muito bonito o capítulo 11 da Carta aos Hebreus, que há pouco ouvimos. Ali, fala-se da fé e põem-se em evidência as grandes figuras bíblicas que a viveram, tornando-se modelo para todos os fiéis. No primeiro versículo, o texto reza: «A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê» (11, 1). Por conseguinte, os olhos da fé são capazes de ver o invisível, e o coração do crente pode esperar além de toda a esperança precisamente como Abraão, de quem na Carta aos Romanos Paulo afirma que «acreditou, esperando contra toda a esperança» (4, 18).
E é precisamente sobre Abraão, que gostaria de chamar a nossa atenção, porque ele é a primeira grande figura de referência para falar de fé em Deus: Abraão, o grande patriarca, modelo exemplar, pai de todos os crentes (cf. Rm 4, 11-12). A Carta aos Hebreus apresenta-o assim: «Foi pela fé que Abraão, obedecendo ao apelo divino, partiu para uma terra que devia receber em herança. E partiu sem saber para onde ia. Foi pela fé que ele habitou na terra prometida, como em terra estrangeira, habitando aí em tendas com Isaac e Jacob, co-herdeiros da mesma promessa. Porque tinha a esperança fixa na cidade assentada sobre os fundamentos eternos, cujo arquitecto e construtor é Deus» (11, 8-10).
Aqui, o autor da Carta aos Hebreus faz referência à vocação de Abraão, narrada no Livro do Génesis, o primeiro livro da Bíblia. O que pede Deus a este patriarca? Pede-lhe que parta, abandonando a própria terra para ir rumo à terra que lhe indicar: «Deixa a tua terra, a tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar» (Gn 12, 1). Como teríamos respondido nós a um convite semelhante? Com efeito, trata-se de uma partida às escuras, sem saber para onde Deus o levará; é um caminho que exige uma obediência e uma confiança radicais, ao qual só a fé permite aceder. Mas a escuridão do desconhecido — onde Abraão deve ir — é iluminado pela luz de uma promessa; Deus acrescenta ao mandato uma palavra tranquilizadora que abre diante de Abraão um futuro de vida em plenitude: «Farei de ti uma grande nação; abençoar-te-ei e exaltarei o teu nome... e todas as famílias da terra serão benditas em ti» (Gn 12, 2.3).
Na Sagrada Escritura, a bênção está vinculada primariamente ao dom da vida que vem de Deus e manifesta-se em primeiro lugar na fecundidade, numa vida que se multiplica, passando de geração em geração. E à bênção está ligada também a experiência da posse de uma terra, de um lugar estável onde viver e crescer em liberdade e segurança, temendo Deus e construindo uma sociedade de homens fiéis à Aliança, «reino de sacerdotes e nação santa» (cf. Êx 19, 6).
Por isso, no desígnio divino, Abraão está destinado a tornar-se «pai de uma multidão de povos» (Gn 17, 5; cf. Rm 4, 17-18) e a entrar numa nova terra onde habitar. E no entanto Sara, sua esposa, é estéril, não pode ter filhos; e o país para o qual Deus o conduz é distante da sua terra de origem, já é habitado por outras populações, e nunca lhe pertencerá verdadeiramente. O narrador bíblico sublinha-o, mas com muita discrição: quando Abraão chegou ao lugar da promessa de Deus: «Os Cananeus já viviam naquela terra» (Gn 12, 6). A terra que Deus oferece a Abraão não lhe pertence, ele é um estrangeiro e tal permanecerá para sempre, com tudo o que isto comporta: não ter finalidades de posse, sentir sempre a própria pobreza, ver tudo como dádiva. Esta é também a condição espiritual de quem aceita seguir o Senhor, de quem decide partir, acolhendo a sua chamada, sob o sinal da sua bênção invisível mas poderosa. E Abraão, «pai dos crentes», aceita esta chamada na fé. Na Carta aos Romanos são Paulo escreve: «Esperando, contra toda a esperança, Abraão teve fé e tornou-se pai de muitas nações, segundo o que lhe fora dito: “Assim será a tua descendência”. Não vacilou na fé, embora tenha reconhecido o seu próprio corpo sem vigor — pois tinha quase cem anos — e o seio de Sara igualmente amortecido. Diante da promessa de Deus, não vacilou, não desconfiou, mas conservou-se forte na fé e deu glória a Deus. Estava plenamente convencido de que Deus era poderoso, para cumprir o que prometera» (Rm 4, 18-21).
A fé leva Abraão a percorrer um caminho paradoxal. Ele será abençoado, mas sem os sinais visíveis da bênção: recebe a promessa de se tornar um grande povo, mas com uma vida marcada pela esterilidade da sua esposa Sara; é levado para uma nova pátria, mas nela deverá viver como estrangeiro; e a única posse da terra que se lhe permitirá será a de um lote de terreno para ali sepultar Sara (cf. Gn 23, 1-20). Abraão é abençoado porque, na fé, sabe discernir a bênção divina, indo além das aparências, confiando na presença de Deus até quando os seus caminhos lhe parecem misteriosos.
O que significa isto para nós? Quando afirmamos: «Creio em Deus», nós dizemos como Abraão: «Confio em ti; confio-me a ti, ó Senhor!», mas não como a alguém, ao qual recorrer apenas nos momentos de dificuldade, ou a quem dedicar alguns momentos do dia ou da semana. Dizer «Creio em Deus» significa fundar sobre Ele a minha própria vida, deixar que a sua Palavra a oriente todos os dias, nas escolhas concretas, sem medo de perder algo de mim mesmo. Quando, no Rito do Baptismo, por três vezes somos interrogados: «Credes?» em Deus, em Jesus Cristo, no Espírito Santo, na santa Igreja católica e nas outras verdades de fé, a tríplice resposta é no singular: «Creio», porque é a minha existência pessoal que deve passar por uma transformação mediante o dom da fé; é a minha existência que deve mudar, converter-se. Cada vez que participamos num baptizado, deveríamos perguntar-nos como vivemos diariamente o grande dom da fé.
Abraão, o crente, ensina-nos a fé; e, como estrangeiro na terra, indica-nos a pátria verdadeira. A fé torna-nos peregrinos na terra, inseridos no mundo e na história, mas a caminho da pátria celestial. Portanto, crer em Deus torna-nos portadores de valores que muitas vezes não coincidem com a moda, nem com a opinião do momento, exige que adoptemos critérios e assumamos comportamentos que não pertencem ao modo de pensar comum. O cristão não deve ter medo de ir «contra a corrente» para viver a sua fé, resistindo à tentação de «se conformar». Em numerosas das nossas sociedades, Deus tornou-se o «grande ausente» e no seu lugar existem muitos ídolos, ídolos extremamente diferentes entre si, e sobretudo a posse e o «eu» autónomo. E também os progressos notáveis e positivos da ciência e da técnica suscitaram no homem uma ilusão de omnipotência e de auto-suficiência, e um egocentrismo crescente criou não poucos desequilíbrios no contexto das relações interpessoais e dos comportamentos sociais.
E no entanto, a sede de Deus (cf. Sl 63, 2) não foi saciada e a mensagem evangélica continua a ressoar através das palavras e das obras de numerosos homens e mulheres de fé. Abraão, o pai dos crentes, continua a ser pai de muitos filhos que aceitam caminhar no seu sulco e põem-se a caminho, em obediência à vocação divina, confiando na presença benévola do Senhor e acolhendo a sua bênção, a fim de se fazer bênção para todos. É o mundo abençoado da fé, ao qual todos somos chamados, para caminhar sem medo no seguimento do Senhor Jesus Cristo. Trata-se de um caminho por vezes difícil, que conhece também a prova e a morte, mas que abre à vida, numa transformação radical da realidade, que unicamente os olhos da fé são capazes de ver e saborear em plenitude.
Então, afirmar «Creio em Deus» impele-nos a partir, a sair de modo incessante de nós mesmos, precisamente como Abraão, para levar à realidade quotidiana em que vivemos a certeza que nos deriva da fé: ou seja, a certeza da presença de Deus na história, também hoje; uma presença que traz vida e salvação, abrindo-nos a um futuro com Ele, para uma plenitude de vida que nunca conhecerá ocaso.

Fonte: Santa Sé

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